A população de El Salvador irá às urnas neste domingo (28) para eleger 84 deputados e membros dos conselhos – cargo equivalente ao de vereador – de 262 municípios do país. Devido à pandemia de covid-19, residentes no exterior não poderão participar do pleito. Estão aptos a votar, no país, 5,4 milhões de eleitores.
Além da covid-19, que matou 1.832 salvadorenhos, o contexto pré-eleitoral é marcado pela violência contra o partido de esquerda Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional (FMLN), fundado como grupo guerrilheiro na década de 1980. Um mês atrás, um ataque a tiros no centro da capital, San Salvador, matou dois militantes e feriu cinco. A polícia investiga os mentores dos assassinatos.
O partido Novas Ideias, do atual presidente Nayib Bukele, aliado aos Estados Unidos, lidera as intenções de voto na maioria das regiões, acima da FMLN e da Aliança Nacionalista Republicana (Arena), que representa a direita tradicional.
A Arena tem o maior número de representantes na atual legislatura, 35, contra 23 da FMLN. Uma vitória expressiva do Novas Ideias abriria caminho para Bukele governar "sem contrapesos", segundo analistas locais.
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Contexto econômico
Um dos planos do presidente para os próximos meses é firmar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que implicaria em ajustes fiscais que devem prejudicar a população mais pobre, segundo a oposição. Para isso, precisaria ter maioria no Legislativo.
El Salvador é o país da América Central com maior déficit fiscal na pandemia. A diferença entre gastos e arrecadação do governo saltaram de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2019, para 10,5%, em 2020.
Para além do tema econômico, uma das pautas abraçadas pela esquerda e pela juventude local é a descriminalização do aborto. Com altos índices de violência de gênero, El Salvador é um dos cinco países do mundo que proíbem a interrupção da gestação em todos os casos.
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Autoritarismo no país
Em entrevista ao portal Peoples Dispatch, Victor Suazo, membro da FMLN e candidato à Assembleia Legislativa por San Salvador, afirma que Bukele promove o avanço do autoritarismo no país. "Vivemos um retrocesso em nossa institucionalidade democrática e em matéria de direitos humanos", diz.
Bukele dobrou o investimento nas Forças Armadas sem justificativas no último ano, embora a Constituição de El Salvador limite as funções dos militares à defesa do território e da soberania nacional.
"Ele está utilizando as Forças Armadas de maneira política. Assim como a polícia nacional e civil, elas estão agora a serviço do seu partido político", lamenta Suazo.
Entre 1979 e 1992, a FMLN enfrentou o governo ditatorial de direita, apoiado pelos Estados Unidos, em uma guerra civil que matou mais de 80 mil pessoas. O conflito terminou com um acordo de paz, celebrado até hoje por militantes de esquerda. Desde então, a Frente se organiza como um partido político, mas continuou a sofrer agressões.
Para Suazo, os casos recentes de violência e prisão contra militantes da FMLN são resquícios da ditadura militar, cujos métodos são reproduzidos por Bukele. Ele lembra que o atual presidente considera o acordo de paz de 1992 "uma farsa" e deslegitima diariamente as instituições.
Assista a entrevista, em espanhol, com Victor Suazo:
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Acusações sem prova
Nas últimas semanas, o partido do presidente tem atacado o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), alegando uma suposta fraude que estaria sendo arquitetada para prejudicá-lo, sem apresentar provas.
Em meio a tantas polêmicas, uma das preocupações da oposição é a ausência de observadores internacionais que tradicionalmente acompanham os pleitos em El Salvador. A União Europeia, por exemplo, confirmou na última semana que não enviará uma comitiva de observadores ao país devido ao avanço da pandemia.
Edição: Rodrigo Durão Coelho