Pandemia

Omissão de Bolsonaro e do Congresso cortou verba de 73% dos leitos de UTI para covid

Concentrados nas eleições legislativas, Bolsonaro e parlamentares deixaram de votar orçamento de 2021, travando verbas

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Bolsonaro, Pacheco e Lira: preocupação total com a disputa pelo poder, descaso com a saúde dos brasileiros - Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Concentrados nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os parlamentares deixaram o orçamento para 2021 parado no Congresso Nacional.

Como consequência, o número de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com covid-19 financiados por verba federal caiu 73,5% entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, mesmo com o agravamento da pandemia em todo o Brasil.

No final do ano passado, o Ministério da Saúde repassava verbas para a manutenção de 12.003 leitos de UTI para covid-19. Em janeiro, o número de UTIs apoiadas caiu para 7.717 e, em fevereiro, para 3.187. Os dados são do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).

O problema se deve, principalmente, à paralisação do projeto de lei do orçamento de 2021 no Congresso Nacional. Os deputados e senadores, bem como o governo Bolsonaro, deixaram o projeto de lado para se concentrar na eleição dos presidentes das duas casas.

Com isso, o ano de 2021 começou sem orçamento. Na prática, isso significa que o governo federal só pode usar 1/12 dos recursos previstos por mês, sem fazer remanejamentos ou repasses de valores acumulados. 

O Conass pressionou pela liberação de verba emergencial e divulgou nesta segunda-feira (8) a habilitação de 3.329 leitos de UTI para pacientes com covid-19, o que elevou o total de 3.187 para 6.518.

No entanto, além de ainda faltarem 5.485 leitos para retomar a estrutura existente em dezembro, a verba que está sendo utilizada foi remanejada por meio da Portaria 3.896/2020, do Ministério da Saúde, o que causou insegurança aos secretários estaduais.

Isso porque o recurso não é específico para financiamento de leitos de UTI para covid-19 e pode levar a questionamentos legais sobre a medida.

Mesmo com esse aumento de leitos de UTI para pacientes com covid-19, a situação dos estados é de redução na oferta de atendimento.

O estado de São Paulo teve corte no financiamento de 1.426 leitos: de 2.816 para 1.389 (corte de 51%). Minas Gerais teve corte de 58% dos leitos: de 1.580 para 666. As maiores reduções percentuais foram em Goiás, com corte de 79%, Rondônia, 73%, Piauí, 71%, e Maranhão, 68%.


Dados do Conass mostram impacto do corte de verbas do governo Bolsonaro / RBA

O governo paulista cobrou publicamente do governo Bolsonaro o repasse de R$ 1,5 bilhão pelo corte no financiamento de leitos de UTI para pacientes com covid-19.

No entanto, o estado informou ter condições de manter os leitos em operação com verbas próprias de forma emergencial. Outros estados e municípios, porém, podem não conseguir manter o atendimento.

Além disso, enquanto não houver aprovação do orçamento de 2021, não há garantia de recursos federais para o financiamento de leitos de UTI para pacientes com covid-19, o que pode levar ao corte no financiamento de mais leitos em março, por falta de recursos.

O Brasil registra mais de mil mortes por dia há 18 dias consecutivos e a redução de leitos pode ter contribuído para essa situação.

“Tal situação exige a urgente habilitação de leitos e a garantia do financiamento necessário a seu funcionamento, inclusive para a contratação de recursos humanos", afirmou o Conass por meio de nota.

No domingo (7), o Ministério da Saúde solicitou R$ 5,2 bilhões ao Ministério da Economia para financiamento dos leitos de UTI para pacientes com covid-19. 

O Conass destaca que a situação no país é grave e que o Ministério da Saúde precisa agir urgentemente.

"O Conass espera que a solicitação do Ministério da Saúde ao Ministério da Economia para o aporte R$ 5,2 bilhões destinados a enfrentar a covid-19 em 2021 seja bem-sucedida e acatada com urgência. Somente assim poderemos seguir com as ações de saúde frente à emergência sanitária que enfrentamos”, diz a nota.