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Ameaçada de despejo, União dos Haitianos pode interromper auxílio a imigrantes em SP

Entidade criada em 2014 é uma das referências para integrar e auxiliar os haitianos que chegam ao Brasil

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |

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Ações de solidariedade da USIH atenderam mais de 600 famílias haitianas durante a pandemia - Tácito Shimato

Com oito meses de aluguel atrasado, a sede da União Social dos Imigrantes Haitianos (USIH), no bairro da Liberdade, em São Paulo, corre risco de despejo. A dívida da entidade soma mais de 15 mil reais. A perda do espaço vai afetar a assistência concedida aos haitianos em meio à crise. Só neste ano, foram distribuídas mais de 600 cestas básicas. 

“Desde maio, a gente começou a receber muitas demandas, especialmente com a alimentação. Pessoas que estavam com um choque psicológico na cabeça, que não sabiam o que fazer, precisavam de alguém para conversar, precisavam de comida, de dinheiro para pagar o aluguel”, explica Fedo Bacourt, coordenador da USIH.

Fedo vive em Itaquera, com a esposa e a filha. Hoje, não tem emprego, apenas bicos com traduções. Com o dinheiro que ganhou com o último trabalho, há 3 meses, conseguiu ajudar o casamento do irmão em Porto Príncipe, capital do Haiti, e suprir o valor para garantir cestas aos conterrâneos que vivem em São Paulo.

Principal alternativa econômica dos imigrantes no país, o trabalho ambulante se tornou inviável no auge da pandemia por conta do isolamento social. Isso afetou especialmente as mulheres haitianas que atuam na feira do Brás, mas também as atividades prestadas pela USIH.

"O problema urgente que a USIH tem que resolver é alimentar as crianças que estão em casa, que as mães não tem como sair para poder buscar uma comida na rua. São pessoas em uma situação lamentável”, aponta a liderança da organização criada em setembro de 2014.

Hoje, mais de 22 mil haitianos recebem o auxílio emergencial, de acordo com a Caixa Econômica Federal. O benefício, no entanto, acaba no final do mês e não contempla a maioria dos haitianos que vivem no país

Segundo dados da Polícia Federal organizados pela Universidade de Campinas (Unicamp) e pelo Observatório das Migrações em São Paulo, mais de 135 mil haitianos entraram em território brasileiro entre 2000 e 19 de março de 2020 - quando as fronteiras terrestres foram fechadas. 

Assim como Fedo, boa parte dos haitianos cruzou as fronteiras do país para refazer suas vidas após o terremoto de 2010. O desastre matou mais de 250 mil pessoas e desabrigou 1 milhão e meio de haitianos. Já o desemprego atingiu quase 80% da população na época. No Brasil, os haitianos precisaram enfrentar novos obstáculos.  

“No princípio, em 2012, 2013 e 2014, era muito fácil ter um emprego, especialmente na construção civil, na limpeza. Mas de 2015 para cá, as dificuldades são enormes. A gente está enfrentando muito racismo institucional, xenofobia, pessoas que não falam a língua e as empresas estão se aproveitando dessas pessoas”, revela.

E completa: “Eu sei que é muito difícil eliminar (o racismo), mas podemos diminuir. Para que todo mundo tenha acesso. Acesso para todos. Criar um mundo sem fronteiras, sem burocracia, um mundo sem limites. Para que todo mundo tenha acesso ao mínimo".

Para conseguir fazer o trabalho de assistência a essa população, os membros da união dos haitianos iniciaram uma campanha virtual para quitar os aluguéis atrasados, que pode ser acessada por meio deste link. A vaquinha encerra em 14 dias e alcançou pouco mais da metade do valor necessário. 

 

Edição: Raquel Setz