A oposição à venda da Companhia Energética de Brasília (CEB) gerou novos ecos nesta quarta-feira (2), na capital federal. Trabalhadores, estudantes e lideranças populares protestaram contra a privatização da empresa nas proximidades do Palácio do Buriti, onde fica o governador Ibaneis Rocha (MDB). A estatal, que atende uma média de 3 milhões de consumidores no Distrito Federal, tem leilão agendado para a próxima sexta-feira (4).
Jeová Pereira de Oliveira, servidor da CEB aposentado, esteve entre os que compareceram ao local para se somar ao protesto. Ele destaca a preocupação com o risco de precarização do serviço de fornecimento elétrico e aumento da tarifa de energia, práticas tradicionalmente associadas ao contexto pós-privatização.
Com as políticas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o aumento do custo de vida no país, a inflação no preço da conta de luz já é uma realidade. Na terça (2), por exemplo, dois dias depois das eleições de 2020, a autarquia autorizou a reativação das bandeiras tarifárias aplicadas no país e retornou ao chamado “patamar 2” da bandeira vermelha, que custa R$ 6,243 para cada 100 kWH consumidos.
Podem preparar o bolso aqui no DF porque as contas vão subir
“Há muita coisa em jogo. Essa questão da tarifa não é uma falácia ou uma balela que a gente prega. Podem preparar o bolso aqui no DF porque as contas vão subir. Já subiram, por questões climáticas, inclusive. Nós vamos ter prováveis problemas sérios com a questão da tarifa energética pra 2021 porque está com pouca chuva, praticamente não tivemos chuva”, projeta Oliveira, ao associar a venda da CEB a outros elementos que tendem a encarecer o serviço.
O grupo vê uma conexão direta entre as medidas do governo Ibaneis e a agenda econômica do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), conduzida pelo ministro Paulo Guedes. A cartilha se pauta na asfixia dos serviços públicos por meio da proposta de reforma administrativa e da venda de diferentes empresas públicas.
“Energia elétrica não pode ser uma mercadoria entregue à iniciativa privada. É uma questão estratégica da sociedade e o fornecimento tem que ser igual pra toda a população, independente da renda. A privatização significa entregar [a estatal] pra uma empresa que busca o lucro, que tende a investir onde dá mais retorno financeiro, e aí áreas mais carentes podem ficar comprometidas. Entendemos que uma empresa dessa precisa ser pública”, acrescenta o presidente da Central Única dos Trabalhadores no DF, Rodrigo Rodrigues.
A estudante Luiza Alcântara, do coletivo Faísca, destacou a possível redução dos quadros da CEB e demissão de funcionários públicos após a venda da empresa. Ela também considera que a união entre os segmentos da juventude e da classe trabalhadora é elemento fundamental para combater a agenda privatista.
“Acho que os trabalhadores são fundamentais. Eles possuem essa força material de mudar ativamente o mundo por estarem na base de todo sistema de produção. São eles que fazem tudo e, nesse cenário de grande ataque e precarização que a gente vem sofrendo, se a gente unificar as nossas lutas, essa união deixa a gente mais forte”, diz Alcântara.
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Os manifestantes contrários à venda da CEB se queixam também da colocação da empresa à venda sem avaliação do Legislativo distrital, conforme prevê a Lei Orgânica do Distrito Federal.
Governo
A reportagem procurou o governo Ibaneis para tratar do assunto. Por meio de sua assessoria de imprensa, a gestão respondeu que considera como legítima “toda mobilização sindical dentro dos limites legais”. “O direito de manifestação é assegurado a todos e salutar para a democracia”, disse o governo.
O mesmo procedimento foi adotado em relação à CEB. A empresa disse não poder falar sobre o assunto da privatização por conta de “regras da CVM” [Comissão de Valores Imobiliários].
Edição: Rogério Jordão