Na última semana, foi inaugurado em Recife o Instituto Menino Miguel. O órgão é uma iniciativa da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), que batizou o instituto com o nome do menino Miguel Otávio Santana da Silva. Em junho deste ano, Miguel, de cinco anos, foi morto ao cair do nono andar do prédio onde a mãe, Mirtes Renata de Souza, trabalhava como empregada doméstica. A criança estava sob cuidados de Sarí Corte Real, patroa da mãe, que estava passeando com os cachorros da família no momento.
Antes mesmo do acontecimento do caso, o instituto estava sendo pensado dentro da universidade como uma maneira de agrupar os projetos voltados para pesquisa e extensão no campo social. A ideia era que ações voltadas ao cuidado com a vida e aos direitos humanos, como a Escola de Conselhos, o Observatório da Família, o Núcleo do Cuidado Humano e o Núcleo do Envelhecimento, programas que já atuavam na universidade, pudessem dialogar entre si.
Foi nesse processo de construção da identidade do instituto que aconteceu o caso de Miguel. "O caso de Miguel nos mobilizou bastante. Toda vez que a gente se debruçava sobre o caso, a gente via ali questões da família, do envelhecimento, das infâncias, a relação de cuidado. Então a partir daí, surgiu a ideia de batizar de Miguel, porque ele representa tudo isso", explicou Humberto Miranda, professor da UFRPE e coordenador do Instituto.
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O público-alvo do órgão é a comunidade universitária e, sobretudo, as comunidades periféricas do Recife e da região metropolitana, com atividades formativas a partir de questões relacionadas aos direitos humanos. Contação de histórias e roda de diálogos são exemplos de ações práticas que querem levar o debate da educação, saúde, assistência social e segurança pública para as famílias da periferia. Após a pandemia, o objetivo é expandir as atividades e interiorizar para outras cidades do estado.
Para oficializar o batismo com o nome de Miguel, o órgão entrou em contato com Mirtes para que ela pudesse fazer parte de todo o processo. Desde antes da inauguração, a mãe está envolvida e próxima das atividades do instituto. O coordenador defende que um dos principais objetivos é fortalecer a luta pela justiça por Miguel e dar visibilidade a esse e outros casos de crianças que tiveram a vida perdida ou a infância comprometida pelo racismo. Para ele, ter um patrono que é uma criança negra, filho de empregada doméstica, da periferia do Recife, tem um impacto muito forte no imaginário social.
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Assim, o Instituto Menino Miguel representa resistência e uma forma de combater as estruturas que levaram à morte dessa e de outras crianças. "É para que a memória de Miguel permaneça viva, é para dizer que vidas negras importam, que as crianças negras precisam ser tratadas com a mesma dignidade das crianças brancas de classe média, porque elas são sujeitos de direito. Mirtes não está só, essa é uma luta coletiva", finaliza o coordenador.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga