Desenvolvimento

Artigo | PIB chinês, em paridade de poder de compra, ultrapassa PIB estadunidense

Excluindo a China das projeções de crescimento acumulado até 2021, os números para a economia global ficam negativos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Políticas sanitárias e econômicas permitiram a rápida retomada produtiva chinesa, que novamente expõe de forma concreta sua superioridade diante da anarquia do mercado mundo afora - Kremlin / Fotos Públicas

Segundo o relatório anual do Fundo Monetário Internacional, o World Economic Outlook, continu a projeção de uma recessão profunda ainda em 2020. O crescimento global é projetado em menos 4,4%, sendo que, com a exclusão da China das projeções acerca do crescimento acumulado entre 2020 e 2021, os números para a economia global ficam negativos.

Neste sentido, a previsão para economias avançadas em 2020 é de menos 5,8%, seguido por uma recuperação no crescimento para 3,9% em 2021. Ainda sobre 2021, o documento projeta recuperação para 5,2% do crescimento mundial.

Ato contínuo a esta retomada, o crescimento econômico global deverá desacelerar gradualmente para cerca de 3,5% no médio prazo, o que expressa uma perda permanente na produção. Assim, esta perda cumulativa, em relação à trajetória projetada pré-pandemia, aumentará 11 trilhões neste ano e tem a possibilidade de crescer 28 trilhões até o final de 2025.

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Entretanto, a despeito da recessão global, a produção chinesa já está ultrapassando os níveis de 2019 neste ano e continua a crescer cumulativamente em 10% entre este e o próximo anos, contrariando a produção nas economias avançadas, emergentes e em desenvolvimento, que devem ficar abaixo dos níveis de 2019 até 2021, com retorno gradual em 2022 ou 2023.

E justamente em meio à pandemia e à guerra comercial sino-estadunidense - que já se arrasta desde 2018 - o gigante asiático ultrapassou os EUA e tornou-se a maior economia do mundo sob o critério do tamanho de seu Produto Interno Bruto (PIB), por paridade de poder de compra (PPC).


Tabela / Reprodução WEO

Conforme mostra a tabela, a participação do PIB chinês, em PPC, no PIB mundial chegou a 17,4% - cujo valor atingiu 24,7 trilhões de dólares -, enquanto que a participação do PIB (PPC) estadunidense encontra-se em 15,9%

Outro dado alarmante exposto pelo relatório do FMI é que “os pobres estão ficando mais pobres, com cerca de 90 milhões de pessoas que deverão entrar em privação extrema neste ano”. Porém este é outro fenômeno que a China vem desafiando, tanto no contexto de pandemia quanto anteriormente.

Isto porque, o país estabeleceu em seu programa “Dois Objetivos do Centenário” a meta de construção de uma “sociedade moderadamente próspera” em todos os aspectos até o centenário do Partido Comunista Chinês, em 2021, e ainda transformar a China em uma “sociedade socialista harmoniosa” até 2049, no centenário da Revolução Popular-Socialista.

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Nesse sentido, compõe o objetivo de construção da “sociedade moderadamente próspera” a superação da extrema pobreza até 2021, sendo que o dragão asiático não desistiu de sua empreitada mesmo diante da covid-19, e designou o desafio como prioritário em sua agenda político-econômica deste ano.

Desta forma, chama a atenção a queda colossal da população rural que vivia abaixo da linha da pobreza: entre 1978 e 2018 sua incidência passou de 96,2% para 1,7%, valendo destacar que o Relatório de Trabalho do Conselho de Estado chinês de 2020 aponta que este índice teve queda para 0,6%.

Além disso, entre 2012 e 2018, a população afetada pela pobreza rural foi reduzida de 99 milhões de cidadãos para 16,6 milhões e, de acordo com a linha da pobreza internacional do Banco Mundial, desde 1978, mais de 800 milhões de chineses foram retirados da pobreza, frisando que esta cifra representa mais de 70% da quantia global do período.

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Assim, entre 1949 e 2018, a expectativa de vida do povo chinês aumentou de 35 para 77 anos, caracterizando-se enquanto uma expectativa mais alta do que a média mundial de 72 anos, além de que, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em relatório de 2018, entre 2006 e 2017, o gigante asiático experimentou o crescimento salarial mais rápido do mundo.

Destaca-se que a recuperação econômica chinesa que narramos - e que se mostra oposta à estagnação mundial - se dá como consequência direta das inéditas, rigorosas e eficientes políticas sanitárias e econômicas que o gigante asiático tomou para a contenção da covid-19.

Isto porque estas permitiram a rápida retomada produtiva do país, de tal forma que o planejamento político-econômico chinês, novamente, expõe de forma concreta sua superioridade diante da anarquia do mercado mundo afora.

*Melissa Cambuhy é graduada em Direito, com habilitação especial em Direito e Desenvolvimento, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestra em Direito Político e Econômico, pela mesma instituição, professora e pesquisadora, cuja agenda de pesquisa tem como foco o processo de desenvolvimento nacional chinês.

Edição: Leandro Melito