O ex-presidente boliviano Evo Morales afirmou nesta quarta-feira (21), em entrevista exclusiva a Breno Altman no programa 20 Minutos, que a vitória de Luis Arce nas eleições realizadas no último domingo (18) significou a derrota dos golpistas que o derrubaram do cargo em 2019.
“Democraticamente, derrotamos os golpistas. Com a unidade do povo, com essa convicção revolucionária, com esse alto espírito democrático e pacifista, democraticamente derrotamos os golpistas e as políticas dos Estados Unidos. Fiquei surpreendido pela união do meu povo. Foi impressionante a vitória. Creio no movimento indígena, nas forças sociais do meu país”, afirmou.
Para Morales, a direita boliviana terá que aceitar a derrota. “[Em 2019] Não houve fraude, mas, sim, golpe. Mas o povo boliviano, quase 55%, disse não à discriminação, não ao racismo e sim à nossa revolução democrática e cultural, e sim ao processo de mudança. Estou seguro de que a direita vai reconhecer o triunfo de Arce. Ele já é presidente”, disse.
Veja a entrevista de Evo Morales na íntegra:
Morales disse que deve voltar à Bolívia “logo”, mas rejeitou a ideia de assumir algum cargo no governo Arce. “Não, jamais assumiria. Vou ao Trópico de Cochabamba [região ao norte da Bolívia] para fazer agricultura, uma piscina de tambaqui”, afirmou.
Segundo ele, Arce terá uma relação de amizade com o Brasil, como aconteceu nos 14 anos em que Morales esteve no governo. “Será uma relação sempre de amizade, assim como tivemos com [o então presidente argentino Mauricio] Macri, [o presidente brasileiro Jair] Bolsonaro e [o presidente chileno Sebastián] Piñera, apesar das diferenças ideológicas e programáticas na América Latina. Precisamos trabalhar nossas diferenças”, disse.
América Latina, progressistas e recursos naturais
Para o ex-presidente boliviano, os líderes progressistas latino-americanos precisam incentivar o que chamou de “libertação em ciência e tecnologia”. Morales citou o caso do lítio, recurso natural que foi nacionalizado no país.
“O golpe de 2019 também foi um golpe ao lítio. As empresas norte-americanas reconheceram que financiaram o golpe de Estado. A luta da humanidade é a luta de quem controla os recursos naturais. Na Bolívia, graças à luta dos movimentos indígenas e dos movimentos nacionais decidimos nacionalizar e recuperar os recursos para mudar a situação política do país”, afirmou.
“Os países da América Latina temos a obrigação de defender nossos recursos naturais. Por que tantas tentativas de invasão, de golpe, dos EUA na Venezuela? Tantas ameaças jurídicas contra meu irmão Nicolás Maduro [presidente venezuelano]? É por seu petróleo!”, disse.