Em novembro, a Secretaria da Saúde do Ceará divulgou informe do cenário epidemiológico dos vírus respiratórios no estado do Ceará. Segundo os dados, nas últimas três semanas de novembro houve um aumento no número de casos positivos de covid-19. Com isso, a Secretaria da Saúde recomenda que a população mantenha hábitos preventivos como higienizar frequentemente as mãos, evitar aglomerações em locais fechados e utilizar máscaras em ambientes com maior risco de transmissão.
Para falar sobre esses casos e os cuidados com a covid-19 nas celebrações de fim de ano, o Brasil de Fato conversou com Samuel Átila, médico membro da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares.
Leia a entrevista na íntegra.
Por qual motivo tivemos esse aumento no número de casos positivos de covid-19?
Isso a gente ainda não sabe muito bem. A covid é uma doença nova que se espalhou pelo mundo. Apesar de desde 2020 a gente está convivendo com ela, a gente não sabe ainda como é que ela funciona direitinho. Pode ser que isso seja uma questão sazonal, ou seja, do clima, do comportamento do vírus. Mais ou menos no final do ano para o começo de todos os anos, que aqui a gente chama de inverno, a gente tem um aumento do número de circulação de vírus respiratórios, não só da covid, mas também o vírus da gripe, o vírus do resfriado, então pode ser que esse comportamento também esteja atrelado à covid. Esse final de ano, mais aglomeração, mudança do clima, início das chuvas, tem aumento de casos de todas essas doenças respiratórias.
Mas isso seria uma nova variante, ou não?
A gente pode dizer que é uma nova variante e a gente pode dizer que não é. Por quê? Porque existem variantes novas da covid, especificamente duas que estão pegando mais no Ceará depois de julho e agora no final do ano, mas isso é uma coisa esperada para os vírus, é como se fosse a gripe, todo ano o vírus se renova, isso é uma coisa esperada. Então a covid está com comportamentos semelhantes também. A gente está vendo uma nova variante que agora é a LP 8.1, a gente já passou a pouco tempo pela XEC, mas essas variantes vão surgindo e se a doença continuar circulando novas variantes vão surgindo também.
Você consegue falar sobre esses dados divulgados pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará? Se tem alguma atualização sobre esses dados também?
Olha, o que eu posso dizer é o seguinte, a gente teve um aumento expressivo de casos nesse final do ano. A gente teve um ano relativamente baixo de casos, uma taxa de positividade de testes, o que que é isso? É quando a pessoa faz o teste e o teste dá positivo ou negativo. A gente estava com a taxa de positividade menor do que 50% aqui no Ceará, ou seja, a cada 100 pessoas que iam fazer o teste, menos de 50 davam positivo. Esse cenário foi mudando no início de novembro. A gente pegou a Semana Epidemiológica 47, que a gente trabalha com Semana Epidemiológica, que é mais ou menos o início de novembro, já com essa virada de aumento de casos, esses casos foram acumulando, no final de novembro a gente já estava com 3.568 casos no Ceará quando foi nesse início de dezembro os casos já saltaram para 5.204, e esse número vai só se acumulando, a cada semana vai se atualizando.
Em Fortaleza, que é de onde eu falo e que também é de onde é mais concentrado os casos no Ceará, a gente estava com a média semanal de menos de 50 casos por semana, esse número foi mudando. No início de novembro a gente já estava com uma média de 415 casos, foi aumentando a taxa de positividade. Então, no final de novembro, a gente já estava com mais de 52% do número de positividade de testes aqui em Fortaleza e agora, neste início de dezembro, já está com 55% de taxa de positividade. Então é uma tendência de aumento.
A gente viu uma tendência de baixa de julho a novembro e em novembro esse cenário já muda com uma tendência expressiva de alta para o final do ano. É claro que não é o mesmo que a gente viu em 2022, em 2021 e 2020, eu estou falando aqui de algumas dezenas de casos, quando a gente estava em 2022 a gente estava falando de algumas centenas, de alguns milhares de casos, mas é preocupante.
A gente fala de casos, mas fala também de síndrome respiratória aguda grave, que é quando esse caso fica mais grave, fica pior. Nas últimas quatro semanas, o município de Fortaleza, o município de Sobral e o município de Maracanaú trouxeram dados importantes sobre essa síndrome respiratória aguda grave, aumento de casos, principalmente em crianças e pessoas com mais de 70 anos.
Esse aumento representa algum risco para a população? É preciso ficar alerta com esses dados divulgados pela Secretaria da Saúde?
Sempre representa um risco, né? A disseminação de uma doença respiratória é um risco, por mais que a gente já conheça algo dela, por mais que a gente já tenha vacina dela, sempre é um risco. As pessoas devem ficar atentas, as pessoas devem falar das medidas para se prevenir, mas também, a Secretaria de Saúde e o Ministério da Saúde devem estar muito atentos e conversar com a população, divulgar para a população, ter uma orientação clara, porque isso muitas vezes não acontece. A população não sabe o que fazer, a população não sabe quem é que deve se vacinar, “será que eu tenho que tomar vacina? Será que eu não tenho?”, não sabe onde achar dados, “eu vou procurar no Instagram da onde?, “Onde é que no meu município está dando vacina para a covid?”, “Quem é que toma?”. Esses dados têm que ser claros para a população.
Ainda está tendo vacina para a covid-19? Como é que está essa questão da vacina atualmente?
Olha, atualmente existe uma recomendação que a vacina é para três grupos: para pessoas que nunca foram vacinadas, ou para crianças até cinco anos e para pessoas com mais de cinco anos nos grupos prioritários. A campanha para o público geral não existe mais, o que existe é para os grupos prioritários, quem nunca tomou nenhuma vacina ou para crianças.
Os grupos prioritários são os idosos com mais 60 anos, gestantes, mulheres que tiveram parto recente, pessoas que têm alguma doença da imunidade ou são imunodeprimidas devem receber a vacina aqui a cada seis meses, e recebem dose anual da vacina os trabalhadores da saúde, as pessoas que, independentemente da idade, tem alguma comorbidade, que tem deficiência permanente, as pessoas que são privadas de liberdade, os funcionários que atendem essas pessoas privadas de liberdade, pessoas em situação de rua, ribeirinhos, quilombolas, indígenas, adolescentes do processo socioeducativo. Essas pessoas devem receber a vacina.
É importante buscar os locais que fazem essa aplicação da vacina. Aqui em Fortaleza ela é dividida por regionais, então cada regional vai ter um local que vai aplicar essa vacina diferente, a gente não está com um número muito grande de vacinas, então é importante checar, é importante procurar se você faz parte desse grupo.
Uma das recomendações da Secretaria de Saúde no combate à covid-19, é evitar aglomerações em locais fechados. Dito isso, é preciso ter cuidado com essas festas de fim de ano?
Sempre. É importante usar máscara, é importante não aglomerar muito, com um número muito grande de pessoas e, principalmente, se você está com algum sintoma, seja ele tosse, febre, nariz escorrendo, cansaço, falta de ar, é bom não ir para essas festas de final de ano. É importante se testar, testar para covid-19. Em Fortaleza, o teste está sendo feito em todas as unidades de saúde para os grupos prioritários, gestantes, pessoas com comorbidades, trabalhadores da saúde, e nas unidades sentinela para todas as pessoas. É importante usa máscara, não frequentar tanto ambientes fechados e vamos ter cuidado com as festas de família.
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Fonte: BdF Ceará
Edição: Camila Garcia