DIREITOS HUMANOS

Venezuela é o único país do continente com programa de repatriação durante pandemia

Mais de 92 mil cidadãos já retornaram ao país por voos do plano "Vuelta a la Patria" ou por corredores humanitários

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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Os voos humanitários são realizados pela empresa estatal Conviasa, que também foi sancionada pelos Estados Unidos. - Reprodução

A Venezuela é o único país do continente a manter uma programa de repatriação voluntária durante a pandemia. O plano Vuelta a la Patria (De Volta à Pátria), criado em 2019, garante transporte aos venezuelanos que migraram e querem retornar ao país, mas não têm condições econômicas para isso.

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Utilizando aviões, ônibus e corredores humanitários, 92 mil venezuelanos retornaram ao país durante a pandemia. Desse total, 9 mil estavam infectados com o novo coronavírus e foram tratados no sistema público de saúde do país.

Na última quinta-feira (1), 800 venezuelanos retornaram da Espanha e República Dominicana. Na semana anterior outros 600 já haviam regressado do México, Uruguai e Panamá. 


O Estado oferece o transporte gratuito, por terra e por ar, assim como alojamento, alimentação, medicamentos e atenção médica, nesse período pandêmico. 

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Isso porque, segundo as normas estabelecidas pelo governo bolivariano, todos que entram no país devem fazer os exames de diagnóstico de covid-19 e permanecer duas semanas em isolamento social. 

Os voos do Vuelta a la Patria foram reativados em setembro, a partir de novos acordos estabelecidos pelo Estado venezuelano e outras nações.


200 venezuelanos regressaram da República Dominicana na última quinta-feira (1) no terceiro voo humanitário do plano de Vuelta a la Patria / Reprodução

Ramses Fuenmayor Arocha, engenheiro de sistemas e professor titular da Universidade Central da Venezuela (UCV), havia viajado ao México no dia 7 de março para oferecer um curso de 10 dias e só conseguiu retornar no dia 9 de setembro, em um voo que saiu da cidade de Toluca. 

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Como as fronteiras venezuelanas foram fechadas no dia 15 de março, seu voo foi cancelado. Arocha conta que enviou várias cartas à embaixada venezuelana na Cidade do México até ser incluído na lista de repatriados. 

“Devo dizer que os funcionários da embaixada foram muito amáveis. Todo foi muito ordenado. No mesmo dia que cheguei já colheram material para realizar uma prova PCR, o resultado negativo saiu em três dias, quando fui liberado da quarentena”, comenta o professor da UCV. 

Outra repatriada foi Ana Karine Rivas, jovem venezuelana, que vivia em Lima, Peru, há dois anos e sofreu um acidente ao tentar retornar ao seu país. 

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Desempregada por conta da pandemia, Ana foi despejada da casa onde vivia e então decidiu retornar à Venezuela caminhando, junto ao seu companheiro e outro grupo de 10 venezuelanos.

A travessia começou no dia 30 de abril, e na madrugada do dia seguinte, os venezuelanos foram atropelados por um caminhão cisterna, enquanto dormiam nas margens da Avenida Panamericana Norte, província de Barranca, ao norte da capital peruana. No acidente, três pessoas faleceram e nove foram feridas. 

“Pedíamos ajuda e ninguém queria parar, até que alguns minutos depois um senhor nos ajudou chamando a polícia. Depois que nos levaram ao hospital, a embaixada nos ajudou com tudo, comida, tratamento, medicamentos e quando melhoramos, nos colocaram num voo junto a pessoal diplomático de volta ao nosso país”, conta Rivas.

 

 

Ana Karine passou por três cirurgias na perna e ainda caminha com ajuda de muletas. Embarcou no dia 21 de julho em Lima e chegou novamente ao seu lar no dia 13 de agosto, depois de cumprir a quarentena obrigatória. 

Dois pesos, duas medidas

Apesar de ser um país bloqueado economicamente, a Venezuela busca recursos para seguir orientações dos organismos multilaterais. 

Em maio, a Organização Internacional para Migração (OIM), havia alertado para a necessidade de estabelecer pontes para garantir a volta à casa dos imigrantes, destacando que a América Latina e África Oriental são as regiões com maior mobilidade humana no mundo. 

Os últimos fatos comprovam as previsões. Na última quinta-feira (1), cerca de mil hondurenhos começaram uma nova caravana imigrante rumo aos Estados Unidos. 


Caravana com cerca de mil hondurenhos já chegou à Guatemala, depois de cruzar a fronteira pela cidade de Corinto / Gilda Silvestrucci /Telesur

O governo de Donald Trump novamente se nega a receber essa população em situação de vulnerabilidade social, mantendo a mesma postura que expressou em 2019, com as outras caravanas que partiram de El Salvador, Guatemala e Honduras.

Além de manter as portas fechadas para imigração, Trump também realizou cerca de 10 mil deportações durante a pandemia. Os governos que receberam cidadãos expulsos do território estadunidense denunciaram que muitos voltaram contaminados com a doença.

Há mais de seis meses, os Estados Unidos se mantém como o país afetado pelo vírus, acumulando 7,3 milhões de doentes e 208 mil falecidos, segundo a Universidade Johns Hopkins.

O presidente também se negou a dar autorização para que um voo da companhia aérea venezuelana Conviasa aterrissara no território estadunidense para repatriar 524 cidadãos que haviam solicitado ajuda. A orientação da chancelaria venezuelana foi que essas pessoas viajassem até o México para poder retornar à nação.

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Por outro lado, a Casa Branca anunciou uma ajuda de 128 milhões de dólares ao deputado venezuelano Juan Guaidó, para, supostamente, ajudar a combater a pandemia da covid-19 no país e apoiar os migrantes. No entanto, deputados e personagens políticas de oposição ao governo Maduro denunciam que esse dinheiro nunca se reverteu em ações concretas. 

Edição: Lucas Weber