Controle da pandemia

Venezuela combate entrada ilegal de imigrantes pela fronteira com a Colômbia

Governo denuncia que pessoas infectadas com covid-19 são incentivadas por grupos irregulares

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Freddy Bernal, protetor do estado Táchira, comanda tropas militares para desmontar estruturas ilegais de imigração - Reprodução

O governo bolivariano da Venezuela decidiu aumentar a presença de tropas militares na fronteira com a Colômbia para desmontar as chamadas "trouxas" - entradas ilegais de pessoas no seu território. Somente nas duas últimas semanas, 36 pessoas foram detidas por participar de grupos irregulares dedicados a esse tipo de atividade.

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Segundo dados oficiais, cerca de 70% dos infectados com coronavírus na Venezuela são casos importados dos países vizinhos. Além disso, o governo assegura que os focos locais foram gerados por venezuelanos que ingressaram ao país de maneira ilegal e contaminaram seus vizinhos, colegas e familiares.

"É uma situação de abandono não só por parte dos países receptores, senão também pelos organismos multilaterais, que não têm sido capazes de acompanhar o retorno de milhares de venezuelanos que voltaram à Venezuela durante a pandemia. Tudo isso apesar da cifra de quase 1 bilhão de dólares que foram movimentados nesses últimos tempos em torno à ajuda à migração venezuelana. Há muitos interesses pelo montante milionário que se movimenta, além da corrupção que já é característica do grupo de Guaidó. Esse dinheiro já deu a volta ao mundo, menos nos bolsos dos imigrantes que requerem desse apoio" , assegura María Fernanda Barreto, analista política colombo-venezuelana. 


Venezuelanos são examinados ao cruzar o controle fronteiriço terrestre no estado Táchira, fronteira com a Colômbia / Divulgação

 

Esse dinheiro já deu a volta ao mundo, menos nos bolsos dos imigrantes que requerem desse apoio.

 

De acordo com o procurador geral da República da Venezuela, Tarek William Saab, as "máfias das trouxas" exigem o pagamento em dólares e incluem o traslado interno no território venezuelano com táxis fretados.

Para María Fernanda Barreto, vários setores econômicos colombianos são favorecidos com as travessias ilegais e a prática é tutelada pelo governo de Iván Duque. "Isso implica a circulação constantes de paramilitares colombianos, de mercenários de empresas contratistas privadas, setores da direita venezuelana que são treinados no território colombiano.


Além disso, esses grupos narco paramilitares controlam vários território que vão da Colômbia para a Venezuela, pois albergam várias estruturas do seu interesse e como eles têm anuência do Estado colombiano, qualquer pessoa que quer entrar por essa zona à Venezuela é obrigada a passar pelos narco-paramilitares", denuncia. 

Os estados Zulia, Táchira e Apure, região fronteiriça com o território colombiano, concentram o maior número de infectados pela pandemia, com 1664 casos, 833 e 1355, respectivamente. A zona ocidental do país concentra mais de 50% do total de 8.010 casos venezuelanos.

Colômbia e Venezuela compartilham 2.219km de fronteira e nem toda essa extensão é vigiada. "É uma fronteira porosa, amigável topográficamente e
culturalmente muito unida. Em alguns lugares é quase impossível estabelecer essa fronteira. Por isso é muito difícil controlar o fluxo imigratório", afirma María Fernanda Barreto, analista política colombo-venezuelana.

Em uma dessas zonas inóspitas, conhecida como "La Escalera", apenas 15m separam os dois países. Lá, esses grupos irregulares montaram uma espécie de tiroleza para permitir a passagem de pessoas e mercadorias.

"É uma fronteira altamente perigosa, porque do lado de lá estão os grupos irregulares fortemente armados e protegidos pelo exército e pela polícia da Colômbia", afirmou o protetor do estado venezuelano de Táchira, Freddy Bernal. 

Na última semana de junho foi denunciada a presença de tropas militares dos Estados Unidos na região que divide Táchira e o estado Norte de Santander (Colômbia).

Apesar da ruptura das relações diplomáticas, diante da situação, Bernal, em nome do governo bolivariano estabeleceu contato com as autoridades colombianas para tentar estabelecer um acordo de cuidados sanitários.

Somente na cidade de Cúcuta, Norte de Santander, estão cerca de dois mil venezuelanos. César Duarte, chefe de imigração do estado colombiano, comprometeu-se, sob supervisão da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), a ajudar essas pessoas a regressar à Venezuela com todos os cuidados sanitários e pela via legal.


A ONU mantem acordos de ajuda humanitária com o governo bolivariano para enviar especialistas e insumos médicos às fronteiras do país. / Reprodução

Edição: Rodrigo Durão Coelho