Depois de quase sete meses do primeiro caso de covid-19, o continente americano é o mais afetado pela pandemia, com cerca de 60% dos casos mundiais, somando mais de 15,2 milhões de infectados, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre os dez países com recorde de casos diários na última semana, seis estão localizados na região (Brasil, México, Peru, Argentina, Estados Unidos), segundo a Universidade Johns Hopkins.
Na América Latina, o Brasil continua sendo o epicentro. Desde fevereiro, o país acumula mais de 4,5 milhões de casos e 135 mil mortos. Em números absolutos de casos e óbitos, o país lidera o ranking e é o terceiro a nível mundial.
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Analisando a taxa de mortalidade do vírus, que é a relação entre os falecidos e a população, o primeiro da lista é o Peru, com 960 mil mortes a cada milhão de habitantes; seguido da Bolívia com 650 mil mortes a cada milhão e do Chile, com 640 mil óbitos também a cada grupo de milhão de habitantes.
Do outro lado dessa balança, o país com menor número de vidas perdidas para a covid-19 é o Uruguai, com 45 perdas; enquanto Cuba possui a menor taxa de mortalidade da região latino-americana, com uma média de nove falecidos a cada grupo de milhão.
No caso do Brasil, a falta de medidas sanitárias adotadas nacionalmente, como a quarentena e o isolamento social, a despistagem massiva, através da realização de provas e a instabilidade do comando do Ministério de Saúde são alguns dos fatores.
Durante a gestão de Eduardo Pazuello, os óbitos aumentaram dez vezes e o número de casos em 20 vezes. Em quatro meses, a pasta foi militarizada. Além de Pazuello, que foi comandante da Operação Acolhida, na fronteira com a Venezuela, outros 25 militares, sem necessariamente possuir formação específica na área, foram empossados em cargos estratégicos dentro do Ministério.
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Sem investimentos
A falta de investimento em saúde é outro fator. Apesar de ser um dos únicos países do mundo com um sistema de saúde público, gratuito e universal, somente em 2020, o orçamento da saúde pública diminuiu em 35 milhões de reais por conta da Emenda Constitucional 95, aprovada ainda no governo de Michel Temer.
Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), apenas 29% dos fundos emergenciais aprovados para atender a pandemia foram utilizados.
O governo de Jair Bolsonaro chegou a ser denunciado pela Venezuela na Organização de Nações Unidas (ONU) por negligência no trato da pandemia.
Já o Peru possui apenas 18 mil camas hospitalares e 1600 de cuidados intensivos para atender uma população de quase 32 milhões de pessoas. Uma proporção que reflete o investimento em saúde. Em 2017, somente 3,6% do PIB peruano foi destinado para a área.
Em total, o país concentra 32,9 mil mortes, mas se aponta um alto nível de subnotificação, já que entre Abril e Agosto desse ano foram registradas 68 mil mortes a mais que nesse mesmo período em 2019.
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O governo de Martin Vizcarra, no entanto, justifica a alta taxa de mortalidade do vírus com a transparência da gestão.
Exemplo cubano
Por outro lado, Cuba, que assim como o Brasil possui um sistema público de acesso universal, é justamente o alto investimento na biomedicina que fez com que a ilha conseguisse conter a mortalidade do vírus, desenvolvendo um dos medicamentos mais eficazes no tratamento da doença: o Interferón Alfa 2b, que pode diminuir a letalidade até 70% em casos moderados.
Cuba também é o único país da América Latina e Caribe a entrar na fase final de testes em humanos de uma vacina contra a covid-19. A expectativa é de que a Soberana 01 deve começar a ser distribuída em janeiro.
Também as medidas preventivas adotadas logo no início da pandemia, como a quarentena a nível nacional e o acompanhamento diário dos casos fez com que a nação mantenha essa taxa 0,95 de letalidade.
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Uruguai rumo ao retrocesso
Enquanto o Uruguai, que registra o menor número absoluto de mortes, é um país pequeno, com apenas 3,7 milhões habitantes - população equivalente ao estado de Alagoas - tem um dos sistemas de saúde mais consistentes da região, segundo especialistas.
Apesar dessa fortaleza, o governo de Luis Lacalle Pou, que assumiu a presidência em março, busca justamente diminuir a estrutura pública do Uruguai.
Apenas um mês depois de assumir a presidência, em abril, Lacalle Pou enviou a Lei de Urgente Consideração ao Congresso, que foi aprovada em julho, por uma pequena vantagem no Senado, 18 votos de um total de 30.
A LUC é um pacote legislativo que altera cerca de 500 artigos da constituição e afeta vários setores públicos, como educação, previdência e, é claro, a saúde.
O partido Frente Ampla, que governou o país de 2005 até março deste ano, classificou o projeto como uma restauração conservadora.
O movimento sindical também rechaçou a proposta. no último dia 10 de setembro, a central PIT-CNT iniciou uma campanha por um referendo para revogar a lei e realizaram uma paralisação nacional na última quinta-feira.
Edição: Douglas Matos