Economia

Populismo: Bolsonaro cancela Renda Brasil em busca de apoio e ameaça equipe de Guedes

Medida afasta o presidente da equipe econômica de Paulo Guedes e reforça nova estratégia eleitoral

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Com o programa, a equipe econômica do governo previa uma economia de R$ 10 bilhões por ano - Evaristo Sa/AFP

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desistiu de lançar o programa Renda Brasil, em substituição ao Bolsa Família. "Até 2022, no meu governo, está proibido falar a palavra Renda Brasil. Vamos continuar com o Bolsa Família. E ponto final", anunciou Bolsonaro por meio de um vídeo publicado em suas redes sociais.

Com o programa, a equipe econômica do governo previa uma economia de R$ 10 bilhões por ano, com o endurecimento dos critérios para a concessão de benefícios como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e a extinção de outras políticas sociais, como o abono salarial, o seguro-defeso (para pescadores) e a Farmácia Popular. O programa também previa, a partir dessas ações, o aumento da média paga pelo Renda Brasil às famílias beneficiadas hoje pelo Bolsa Família.

A decisão de Bolsonaro aponta para uma nova estratégia de aumentar sua base de apoio na população, em detrimento da equipe econômica de Paulo Guedes. "Já disse há poucas semanas que jamais vou tirar dinheiro dos pobres para dar para os paupérrimos. Quem por ventura vier propor a mim uma medida como essa, eu só posso dar um cartão vermelho para essa pessoa", diz Bolsonaro no vídeo.

O auxílio emergencial pode explicar porquê algumas parcelas do eleitorado de baixa renda passaram a apoiar o atual presidente da República, conforme indicou o aumento de popularidade, em cinco pontos percentuais de junho para agosto, de acordo com o instituto de pesquisa Datafolha. 

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Para André Singer, professor de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), Bolsonaro percebeu que há a possibilidade de ganhar uma nova base de apoio, "fundamental para um projeto de longo e médio prazo” e “começou a se aproveitar disso”.

“O governo, então, começa a falar de uma mudança de política econômica. O problema é que para fazer isso, ele precisará não só manter o auxílio emergencial, mas colocar esse programa de transferência de renda dentro de uma concepção de retomada da economia por baixo. Isso definitivamente seria uma reviravolta à qual o mercado está se opondo de maneira veemente”, afirma. 

Há cerca de três semanas, Bolsonaro já havia sinalizado para uma possível desistência quando anunciou, em 26 de agosto, a suspensão do programa conduzido por Paulo Guedes.

A declaração do chefe do Executivo foi feita durante uma agenda oficial em Minas Gerais.Bolsonaro alegou que a suspensão seria por conta de divergências suas com o texto. "Discutimos a possível proposta do Renda Brasil, e falei ‘está suspenso’. A proposta como apareceu para mim não será enviada ao parlamento", disse na ocasião.

Edição: Leandro Melito