Pandemia

"Não tem como fazer uma escola cheia de gaiolas", diz professora sobre volta às aulas

Em São Paulo, João Doria anunciou na terça-feira (1) as diretrizes para o retorno às aulas nas redes pública e privada

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
Escolas Rio - Divulgação

A volta às aulas presenciais durante a pandemia do novo coronavírus vem sendo discutida em todo o país. O Amazonas foi o primeiro estado a ter retorno das atividades, ainda em agosto, e já apresenta algumas ocorrências da doença decorrentes do espaço coletivo. Em São Paulo, o governador João Doria anunciou na última terça-feira (1) as diretrizes para o retorno às aulas na rede pública e privada de ensino.

Apesar de entender que o ensino remoto não é adequado para crianças, Paula Capriglione, professora das redes públicas municipal e estadual, considera muito perigosa a pressão para o retorno das aulas presenciais, puxada em grande parte pelas escolas particulares. 

“Não existe protocolo nenhum que possa realmente controlar um convívio, assim, de um monte de crianças ou jovens dentro de um espaço que por essência é coletivo. Um espaço de convívio e de um convívio de contato,. Não tem como fazer uma escola cheia de gaiolas, cada um na sua caixinha”, afirma.

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Segundo a publicação do Diário Oficial do Estado de São Paulo, o retorno às aulas no dia 8 de setembro não é obrigatório e deve ocorrer, ou não, mediante escuta da comunidade escolar. A determinação é priorizar os 1º, 2º, 5º e 9º anos do ensino fundamental e o 3º do médio.

Os municípios também têm autonomia de interferir no calendário, embasados por dados epidemiológicos de suas regiões. As atividades presenciais poderão ocorrer somente em unidades escolares localizadas em áreas classificadas, no período anterior de 28 dias consecutivos, na fase amarela do Plano São Paulo.

As escolas estaduais que retornarem poderão receber, no máximo, 20% dos alunos por dia, independente da etapa do ensino.

Já as redes municipais e privadas devem seguir o decreto do governo do estado que prevê o limite de 35% para educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, e 20% para anos finais do ensino fundamental e ensino médio. Todas as unidades também ficam autorizadas a funcionar em horário reduzido.

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Os estudantes que compõem o grupo de risco devem permanecer em casa fazendo as atividades remotas. Já quando se trata dos profissionais, há apenas uma recomendação para que os que sejam grupo de risco não retornem ao trabalho presencialmente. 

Miriam Mançano, professora da rede municipal de São Paulo e coordenadora pedagógica, se diz preocupada com o calendário de volta às aulas. “Isso tem preocupado muito todas as pessoas, por que parece que a resposta para dar às escolas particulares têm passado na frente da responsabilidade com a saúde de todo mundo”, afirma.

A preocupação também é dividida com a União Nacional dos Estudantes (UNE). Regina Brunet, vice-presidenta da entidade, explica que é preciso pensar em estrutura para as aulas, segurança para estudantes, professores e funcionários, além de questões como transporte e auxílio permanência.

"A UNE é contrária à retomada do ensino presencial antes que seja possível a volta das aglomerações, antes que a gente tenha uma vacina, um remédio específico para a crise do coronavírus. Hoje a gente não tem infraestrutura nas universidades, nas escolas, sejam públicas ou privadas, para que os estudantes, professores e trabalhadores retornem em segurança", explica. 

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Apesar do avanço no acesso e na estrutura das universidades nos últimos anos, Brunet aponta que as salas de aula brasileiras ainda são locais de aglomeração, assim como o transporte público para deslocamento até os locais de ensino.

"Nos deparamos muitas vezes com salas de aulas com mais de 100 estudantes. O transporte municipal dos ônibus até as universidades também, muitas vezes, em horários de pico está sempre lotado. Por uma questão da saúde pública,  a gente vê que é inviável voltar mesmo que parcialmente com as aulas presenciais nesse momento" completa. 

Edição: Leandro Melito