PANDEMIA

Venezuela prova novos tratamentos com plasma sanguíneo contra a covid-19

Cientistas venezuelanos e cubanos trabalham juntos em pesquisas com uso de plasma de pacientes recuperados da doença

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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Pesquisas com "plasma de convalescente" começaram a ser testados em maio na Venezuela - Efecto Cocuyo

A Venezuela começou, em agosto deste ano, o tratamento de  pacientes infectados com o novo coronavírus com plasma de pessoas que se recuperaram da doença. Os estudos dessa alternativa de tratamento já haviam iniciado em fevereiro, na China.

No caso venezuelano, as pesquisas começaram há cerca de três meses com profissionais do Instituto Venezuelano de Investigações Científicas (IVIC) e o laboratorio Quimbiotec. 

A ministra de Ciência e Tecnologia Gabriela Jimenez detalhou o princípio ativo por detrás da proposta em uma transmissão em cadeia nacional, afirmando que a proposta é utilizar os anticorpos presentes no plasma sanguíneo daqueles que já se recuperaram da doença para apoiar a resposta imunológica de pacientes em estado grave. 

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"Estamos buscando alternativas de medicamentos de baixo custo e há que ser responsáveis para decidir se incorporamos ou não ao tratamento terapêutico", afirmou o Dr. Gregório Sánchez, diretor do laboratório Quimbiotec. 

Agora o Estado venezuelano pretende aplicar o tratamento em massa. Para isso, iniciou uma campanha de doação de plasma, convocando os 32.015 cidadãos que se recuperaram da doença para participar. O governador do estado Zulia, Omar Prieto foi um dos primeiros doadores.


O governador do estado Zulia, Omar Prieto, foi um dos 4981 infectados e, para dar exemplo, foi o primeiro a doar seu plasma sanguíneo. / Red Radio

Segundo o presidente Nicolás Maduro, as dificuldades impostas pelo bloqueio econômico dos Estados Unidos, que prevê sanções a empresas e terceiros países que comercializem com a Venezuela, aumentaram os custos dos tratamentos até quatro vezes, por isso a urgência em encontrar alternativas que possam ser desenvolvidas em território nacional. 

"Temos os melhores tratamentos do mundo, com o bloqueio e as sanções e a perseguição criminosa dos Estados Unidos. Se um medicamento custava mil dólares nos custou três ou quatro mil dólares. Tivemos que ser criativos para poder trazê-los sem que o imperialismo nos impeça", declarou Maduro. 

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A Venezuela registrou 820 contaminados nas últimas 24 horas, chegando a um total de 41.158 casos e 343 falecidos. No entanto, o país mantem uma taxa de recuperação de 78%.

Por isso, além do tratamento com plasma, o Estado oferece, de maneira gratuita, cinco kits de tratamento para pacientes com o vírus Sars-Cov2. 

 - Pacientes assintomáticos, sem comorbidades de risco: Ivermectina ou Cloroquina para reduzir a carga viral. Aspirina de 100 mg, por seus efeitos anticoagulantes;

 - Pacientes com sintomas leves: Os mesmos medicamentos do kit 1 , incorporando outros anti-virais para diminuir a capacidade de reprodução do vírus Sars-Cov2;

 - Pacientes com sintomas leves, maiores de 60 anos: substitui a Aspirina por Enoxapirina, um anticoagulante mais forte;

 - Pacientes com insuficiência respiratória moderada: são adicionados esteroides com efeitos anti-inflatamóritas, como a Dexometasona;

 - Pacientes em estado grave: são aplicados antibióticos para combater possíveis infecções associadas à covid-19.

Cerca de 90% dos casos são tratados pelo sistema público de saúde, nos hospitais sentinela ou em hotéis reservados para atender cidadãos infectados. 

Para oferecer essa estrutura, a Venezuela conta com ajuda humanitária internacional. Rússia, China, Turquia e Irã enviaram carregamentos com medicamentos, equipamentos de proteção individual e outros materiais. Enquanto Cuba apoia com cerca de 600 profissionais de saúde e até setembro pretendem chegar a mil colaboradores.

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No último fim de semana, o país recebeu um carregamento com 73 toneladas de ajuda humanitária canalizada pela União Europeia e a Organização das Nações Unidas (ONU). Enquanto a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) anunciou que enviará 370 mil provas de diagnóstico para apoiar os trabalhados de testagem massiva na Venezuela.

Edição: Leandro Melito