Novos dados do inquérito sorológico realizado pela prefeitura de São Paulo, para detectar a real contaminação pela covid-19 na população paulistana, estima que 1,2 milhão de pessoas já tiveram a doença. O número representa aumento de 80 mil pessoas em relação aos dados divulgados em 20 de junho.
Nesta nova fase, foram realizados 2.864 testes sorológicos – por sangue – para detecção da doença. A prevalência foi de 9,8%, ante 9,5% da testagem anterior. A prefeitura ainda vai realizar mais sete amostragens, uma a cada 15 dias.
A Secretaria da Saúde da gestão Bruno Covas (PSDB) destacou 14 distritos como os principais locais de prevalência da covid-19: Brasilândia, Cachoeirinha e Jaçanã, na zona norte, Liberdade e Santa Cecília, no centro, Cidade Ademar, Jardim São Luís, Campo Limpo e Capão Redondo, na zona sul, Parque São Lucas, Sapopemba, Itaim Paulista, Itaquera e Lajeado, na zona leste.
O governo Covas promete ampliar a testagem nessas 14 regiões, seguindo os critérios de elegibilidade, como testar familiares de pessoas que já testaram positivo, para promover o isolamento daqueles que tiveram contato com o vírus, mas não têm sintomas e podem transmiti-lo. A medida busca controlar a disseminação da doença nas áreas mais vulneráveis. Hoje, a cidade faz, em média, 5 mil testes por dia, segundo a prefeitura.
Trabalho fora de casa
Entre a população afetada, os dados do inquérito sorológico apontam maior prevalência da covid-19 entre aqueles que não puderam parar de trabalhar fora de casa. Além destes, os mais atingidos pela doença foram indivíduos na faixa etária de 35 a 49 anos, com baixa escolaridade, que vivem em casa com cinco ou mais moradores, pardos e pertencentes às classes D e E. A proporção de infecção assintomática foi de 32,8%.
Os dados corroboram o mapeamento realizado pelo Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), da Universidade de São Paulo (USP), com dados da São Paulo Transporte (SPTrans). Segundo os pesquisadores, a concentração em algumas áreas da capital de casos, internações e mortes causadas pela covid-19 está associada com a não interrupção do trabalho de parte da população durante a quarentena. Seja por atuar nos serviços essenciais ou por serem trabalhadores informais obrigados a continuar em atividade por não terem garantia de renda.
O levantamento do LabCidade revela que há pouca relação entre o aumento de casos e o local de moradia, mas grande com a continuidade do trabalho e uso do transporte coletivo.
“As áreas que concentram mais casos são as que mais gente teve que sair para trabalhar. Nós estamos falando de trabalhadores de serviços essenciais cuja circulação ou continuidade do trabalho garantiu que outras pessoas pudessem estar em isolamento social. E trata-se de uma circulação de longo percurso, ou seja, por transporte coletivo, que atravessa a cidade na direção destas áreas de trabalho”, explicou a coordenadora do LabCidade, Raquel Rolnik, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.
Edição: Fábio M. Michel