Instabilidade

Pior momento da pandemia no Brasil ainda está por vir, afirma diretor da OMS

Michael Ryan diz que ausência de ciência, desigualdade e densidade demográfica geraram descontrole da doença no país

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Número de infectados já passou de 500 mil no Brasil - Alex Pazuello/Semcom

O pior nível de contágio pelo novo coronavírus no Brasil ainda está por vir, declarou nesta segunda-feira (1º) o diretor-executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan. 

De acordo com ele, o descontrole de transmissão da covid-19 no país o coloca entre os líderes em aumento de casos diários, o que torna impossível prever quando a situação atingirá seu pior momento.

“Claramente a situação em alguns países sul-americanos está longe da estabilidade. Houve um crescimento rápido dos casos e os sistemas de saúde estão sob pressão", declarou Ryan.

Em números absolutos, o Brasil é o segundo país com mais casos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos - 514.849 casos oficializados pelo governo brasileiro contra 1.797.457 pelo estadunidense, até os últimos balanços divulgados.

::Líderes em casos de covid têm governos conservadores ou demoraram a adotar isolamento::

O diretor ressaltou a ausência de abordagem científica relacionada à desigualdade e densidade urbana para explicar o descontrole em países como o Brasil. Outra vez, ele reforçou a necessidade de aliar decisões de desconfinamento a um programa de testagem eficaz, o que não ocorre por aqui.

“Houve respostas diferentes entre os países, e há bons exemplos de governos que adotaram abordagens científicas, enquanto em outros países vemos uma ausência ou uma fraqueza nisso”, disse Ryan.

Médicos brasileiros concordam

A grande maioria de médicos brasileiros (84,5%) considera, também, que a pior do coronavírus ainda não chegou no Brasil, conforme pesquisa da Associação Paulista de Medicina (APM) divulgada nesta segunda-feira. O questionário foi aplicado a 2.808 profissionais de redes públicas e privadas, entre os dias 15 e 25 de maio. 

Além disso, quase todos os entrevistados (96,6%) disseram acreditar que vai faltar profissionais para cuidar dos doentes por coronavírus no país. Entre eles, quase metade (46%) relatou que já falta mão de obra nas unidades em que atuam.

Edição: Rodrigo Chagas