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Bolívia vive dias de protestos em meio à pandemia para exigir data para as eleições

Governo interino tenta adiar o pleito e reprime as manifestações sob a justificativa de respeitar o isolamento social

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Organizações populares realizam bloqueios de vias para exigir a realização de eleições gerais na Bolívia - STR / AFP

Organizações populares da Bolívia têm organizado protestos para exigir que o governo interino, presidido pela autoproclamada presidenta Jeanine Añez, convoque eleições gerais e estabeleça medidas para que a população possa voltar a trabalhar com segurança em meio à pandemia do novo coronavírus.

As principais manifestações ocorreram nessa segunda-feira (18) nas cidades de Cochabamba e El Alto. Em Kara Kara, bairro popular ao sul da Cochabamba, os manifestantes bloquearam o acesso ao aterro sanitário da região.

Em El Alto, os manifestantes bloquearam uma das principais rodovias da região, que conecta a cidade ao município de Copacabana.

A maioria dos habitantes das duas cidades trabalha informalmente e está impossibilitada de trabalhar devido às medidas de isolamento, aprofundando as condições de pobreza e fome das famílias bolivianas.

O governo interino estabeleceu um auxílio emergencial para as famílias de baixa renda devido ao surto de covid-19 no valor de 500 bolivianos (moeda local), valor que corresponde a menos 25% do salário mínimo no país (2122 bolivianos).

A situação da pandemia no país sul-americano, que até o momento conta com 4263 casos de covid-19 e 174 mortes, se agrava diante da intensa crise política social e econômica que atravessa desde o golpe de Estado contra o presidente Evo Morales, líder do Movimento ao Socialismo (MAS).

A instabilidade do país cresceu com as medidas decretadas pelo governo interino para combater a pandemia. Por um lado, os manifestantes acusam Jeanine Áñez de aproveitar a emergência sanitária para ampliar sua permanência no poder, desrespeitando a Constituição do país.

As eleições gerais no país estavam previstas para 3 de maio, mas foram suspensas pelo Tribunal Superior Eleitoral em março, após presidente autoproclamada declarar quarentena no país devido ao novo coronavírus

Após o adiamento das eleições, o Congresso boliviano aprovou uma lei que determina a realização do pleito em um prazo de até 90 dias, portanto, novas eleições devem ocorrer até 2 de agosto deste ano. No entanto, a autoproclamada presidente, contrária à decisão do Congresso, ainda não fixou uma data para o pleito.

Por sua vez, o governo interino aproveita o decreto de isolamento social para reprimir as manifestações da população local. Jeanine Áñez acusa o Movimento ao Socialismo de promover um “plano de desestabilização” contra sua candidatura.

Segundo a última pesquisa publicada antes do confinamento, o candidato do MAS, Luís Arce, aparece com 33% das intenções de voto, seguido pelo ex-presidente Carlos Mesa, com 18,3%, e por Áñez, com 16,9%.

Os protestos organizados em Kara Kara foram reprimidos pela polícia com gases lacrimogêneos e balas de borracha. Segundo o correspondente da teleSUR na Bolívia, Freddy Morales, o governo ainda não informou se ocorreram detenções durante a repressão, nem o número de feridos.

Ainda segundo Morales, novas manifestações e bloqueios são esperados nesta terça-feira (19) em Cochabamba, El Alto e em Santa Cruz de la Sierra.

Edição: Luiza Mançano