As percepções do professor e sociólogo Florestan Fernandes sobre a reestruturação do ensino superior brasileiro, a partir do período da ditadura, foram reunidas no livro “Universidade brasileira: reforma ou revolução?”, que acaba de ser relançado pela editora Expressão Popular.
A obra é uma coletânea de nove ensaios, escritos a partir de debates e experiências de conferências em torno das chamadas “reformas de base”, realizadas no fim da década de 1960.
Os escritos registram a memória de intervenções públicas realizadas, de acordo com o autor, com o intuito de colaborar com estudantes, intelectuais, políticos e os colegas da resistência no processo de reflexão sobre a cooptação pelos militares da bandeira da Reforma Universitária.
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“O livro do Florestan Fernandes foi elaborado em um momento muito complexo, difícil, que o país estava vivendo, tanto do aprofundamento do modelo da ditadura, assim como o de resistências e lutas estudantis da reforma universitária. E também no contexto em que Florestan tinha conseguido fazer uma nova elaboração sobre o caráter, a natureza da ditadura, que foi sobretudo sobre o capitalismo dependente”, explica o professor da UFRJ Roberto Leher, responsável pela apresentação do livro.
Inicialmente organizada para ser publicada em 1969, os ensaios de Florestan narram a tentativa dos militares de distorcer a Reforma Universitária proposta inicialmente, restringindo a modernização apenas aos aspectos administrativo e pedagógico.
É uma obra fundamental para o Brasil de hoje, em que vivemos desafios que são diferentes, de outra natureza, em vários sentidos.
Para Leher, por mais que a obra retrate um período específico da crise universitária, os escritos são perfeitamente aplicáveis ao momento em que vivemos hoje.
“Florestan elaborou uma obra que, seguramente, nos permite pensar os desafios das universidades brasileiras, no seu processo de constituição histórica, assim como, com esse livro, Florestan faz indicações preciosas sobre o que poderia ser uma universidade plurifuncional num país que enfrenta o capitalismo dependente. Por todos esses motivos, eu entendo que é uma obra fundamental para o Brasil de hoje, em que vivemos desafios que são diferentes, de outra natureza, em vários sentidos, mas também guarda muitas similaridades”.
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Ao comparar o tratamento dado às universidades pelos governos da ditadura e por Bolsonaro, o professor diz acreditar que o atual presidente é ainda mais nocivo.
A reconstrução da universidade é possível e necessária. Mas ela não poderá ser alcançada sem que a própria sociedade se reconstrua
“Esse governo, diferente da ditadura empresarial-militar, é um governo negacionista, é um governo que recusa a existência da ciência, a validade da ciência. E também é um governo que tem uma relação com o imperialismo, sobretudo com a economia estadunidense, muito mais subserviente do que foi o período da ditadura”, justifica.
É justamente sobre o processo tortuoso de sobrevivência das universidades em meio a repressões de todos os lados, resultados de sociedades desintegradas, que escreve Florestan.
“A reconstrução da universidade é possível e necessária. Mas ela não poderá ser alcançada sem que a própria sociedade se reconstrua, modificando-se completamente suas relações com a educação escolarizada, com a cultura e com a imaginação intelectual criadora”, conclui o sociólogo em um trecho do livro.
“Universidade brasileira: reforma ou revolução?” está disponível para venda no site da editora Expressão Popular.
Edição: Rodrigo Chagas