Nordeste

Contra a covid-19, quilombolas do Ceará pedem solidariedade e respeito ao isolamento

Entre as medidas estão o isolamento em casa e a proibição da circulação de pessoas de fora nas comunidades

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
quilombola ceara
No Ceará existem em torno de 70 comunidades quilombolas e não há casos de coronavírus confirmados - Reprodução

Com a situação da pandemia da covid-19 as comunidades quilombolas cearenses têm tomado precauções para que não haja contaminação nas comunidades. Entre as medidas estão o isolamento em casa, a proibição da circulação de pessoas de fora nas comunidades e produção de máscaras. “Os quilombolas não estão parados. Nós estamos em movimento para defender o nosso território, o nosso povo, os nossos griôs e griôas. Porque nós entendemos que uma vez que esse coronavírus chega no quilombo, será devastador. Nós estamos lutando e resistindo para que isso não ocorra”, afirma Ana Eugênia, da Coordenação Estadual dos Quilombos do Estado do Ceará e quilombola do Quilombo Sítio Veiga, em Quixadá (CE). 

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Até esta quarta-feira (29), não há nenhum caso de covid-19 confirmado entre a população quilombola no Ceará. Mas essa não é a realidade Brasil afora: quilombos de Pernambuco, Amapá, Pará e Goiás já têm mortes confirmadas por coronavírus. Dentre as vítimas identificadas apenas uma tinha mais de 60 anos. A vítima fatal mais jovem entre os quilombolas é Simone Paixão Moraes, de 29 anos, do Quilombo Espírito Santo, em Cacoal, no Pará.

Dificuldades

Na comunidade quilombola do Batoque, em Pacujá (CE), os moradores têm cumprido o isolamento social, mas a comunidade enfrenta problemas com a rodovia CE 321, que passa por dentro da comunidade e torna difícil impedir o fluxo de pessoas de fora. “O maior risco atual que a gente passa é que dentro da comunidade passa uma CE e esse acesso é muito arriscado. Nessa CE passam pessoas das cidades vizinhas e também pessoas da cidade de Pacujá. Embora os moradores (quilombolas) estejam fazendo apelos na internet de todas as formas para que as pessoas parem de vir pra dentro da comunidade fazer caminhadas e exercícios, elas continuam a vir. Por mais que a gente se cuide outras pessoas continuam a transitar”, conta Joseli do Nascimento Cordeiro, quilombola do Batoque. 

Por mais que a gente se cuide outras pessoas continuam a transitar.

Outra questão que tem impactado as comunidades quilombolas, assim como outras comunidades e povos tradicionais que estão no campo, é a vulnerabilidade e a insegurança alimentar que, por conta da situação da pandemia, tem aumentado em grande velocidade.

Nesse momento, as comunidades contam principalmente com a solidariedade de organizações da sociedade civil e movimentos sociais que tem se empenhado em uma rede de apoio para que cheguem alimentos e produtos de higiene. “A solidariedade nesse momento tem sido importante para que possa diminuir os impactos causados por esse contexto de pandemia mundial. Nossos moradores vivem da agricultura familiar ou de trabalhos na área da construção civil, da criação de pequenos animais, além de políticas públicas e políticas sociais que nos chegam depois de muitas lutas e mobilizações. Temos buscado ao máximo seguir as orientações das autoridades na área de saúde para não sair de casa”, afirma Evandro Ferreira, presidente da Associação dos Quilombolas da Serra do Evaristo, comunidade localizada em Baturité (CE). 

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No Ceará existem em torno de 70 comunidades quilombolas, sendo 42 delas já certificadas pela Fundação Cultural Palmares. As comunidades quilombolas são grupos com trajetórias próprias e diversas que se originaram e se fixaram a partir de diferentes situações como compra da terra pela própria comunidade, áreas ocupadas no processo de resistência ao sistema escravista, entre outras. No Ceará são conhecidas comunidades quilombolas nos municípios de Tururu, Porteiras, Horizonte, Crateús, Aquiraz, Pacajus, Coreaú / Moraújo, Quiterianópolis, Tamboril, Tauá, Croata, Araripe, Novo Oriente, Quixadá, Baturité, Ipueiras, Salitre, Tamboril e Aracati.

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Fonte: BdF Ceará

Edição: Rodrigo Chagas e Monyse Ravena