A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) apresentou, nesta quinta-feira (23), um balanço de que foram registrados sete óbitos em decorrência do novo coronavírus em comunidades quilombolas do país ao longo de 12 dias. Para o movimento, que atua em mais de 3.500 comunidades em todas as regiões do Brasil, a situação desse setor da população diante da pandemia é "desesperadora".
Os dados integram um monitoramento autônomo desenvolvido pela organização e ainda apontam que os casos estão aumentando. Entre os dias 16 e 17 de abril, havia diagnósticos em cinco estados, sendo 29 casos pendentes de confirmação, sete confirmados e duas mortes, estes últimos nos estados do Amapá e de Pernambuco.
Mas nessa quarta-feira (22), o número aumentou com o falecimento de quatro quilombolas em cidades de Goiás e do Pará. Nesta quinta-feira (23), a comunidade de Marambaia, no Rio de Janeiro, registrou um óbito, e três casos foram confirmados em Pernambuco e uma pessoa internada em estado grave no Maranhão.
Com a subnotificação em todo o país, a Conaq denuncia que a situação é ainda mais grave nos quilombos, alegando que muitas secretarias municipais de saúde deixam de informar quando a transmissão e a morte ocorrem entre pessoas quilombolas.
“Os dados revelam uma alta taxa de letalidade da covid-19 entre os povos quilombolas e uma grande subnotificação de casos. Situações de dificuldades no acesso a exames e denegação de exames a pessoas com sintomas têm sido relatadas pelas pessoas das comunidades”, afirma a entidade em nota.
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Para a organização, a cada dois dias, aproximadamente, ocorre um óbito pela covid-19 entre quilombolas. As poucas condições de saneamento, acesso à água e falta de um sistema de saúde estruturado nessas comunidades são apontadas como fatores que potencializam o ritmo de alastramento e letalidade da epidemia.
“Devido à falência estrutural de sucessivos governos e dinâmicas de racismo institucional, as comunidades não contam com um sistema de saúde estruturado, ao contrário, os relatos da maior parte das comunidades é de frágil assistência e da necessidade de peregrinação até centros de saúde melhor estruturados. Essa situação tende a ser agravar exponencialmente com as consequências sociais e econômicas da crise da covid-19 na vida das famílias quilombolas”, diz o texto.
Auxílio Emergencial
Outra dificuldade relatada neste momento em diferentes comunidades é o acesso à renda básica emergencial, especialmente no que toca à acessibilidade dos procedimentos de cadastramento via aplicativo e falta de ações de governos estaduais e municipais no sentido de atender demandas emergenciais dos remanescentes de quilombos.
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“É perceptível a paralisia dos governantes que assistem ao caos nos quilombos e acabam por reforçar discursos vazios do governo federal que, até o momento, não fez chegar amparos emergenciais e medidas de proteção mais efetivas aos quilombos em todo Brasil”, reitera a Conaq.
Edição: Vivian Fernandes