O que a memória pelo assassinato de camponeses em Eldorado do Carajás, há 24 anos, fortaleceu na luta política no campo, o governo de Jair Bolsonaro destrói paulatinamente desde que assumiu.
Apesar da tragicidade, o massacre se tornou um marco para a expansão de movimentos populares como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e, consequentemente, para o fortalecimento da cruzada por redistribuição de terras e democratização do campo.
“É contraditório a gente ter que perder 19 companheiros, mas isso deu muita força para termos um movimento de luta pela terra no Brasil mais forte. O sangue derramado fortaleceu, sim, a luta política, a produção de alimentos”, afirma Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST.
No total, 21 sem-terra morreram. Além dos 19 mortos no local do massacre, outros dois camponeses faleceram no hospital em decorrência do ataque.
O mensageiro do agro
Segundo Conceição, embora as lutas sigam fortalecidas nas bases desde a tragédia, Bolsonaro tenta, como mensageiro do agronegócio, destruir e criminalizar os movimentos sociais ligados ao campo.
“O governo foi atuando para desmontar e constituir um novo modelo de concentração de terra no Brasil. É um modelo que visa atacar os movimentos sociais, criminalizando as suas formas de fazer a produção de alimento, e, ao mesmo tempo, dando condições para privatizar os lotes da reforma agrária”, comenta Conceição.
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O desmonte passa pela desmobilização de estruturas e também pela aplicação de políticas públicas que retiram direitos dos trabalhadores, de acordo com Marcos Rochinski, coordenador-geral da Contraf Brasil (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar no Brasil).
“O grande retrocesso é o desmonte de um conjunto de políticas públicas relacionadas ao desenvolvimento rural. Nós podemos mencionar o desmonte do PAA, o Programa Nacional de Aquisição de Alimentos, o desmonte do Programa Nacional de Habitação Rural, o desmonte do próprio Incra e, consequentemente, da reforma agrária como um todo”, diz.
Rochinski cita o rompimento do diálogo, por parte de Bolsonaro e seus comandados, como fator determinante para a fragilização da vida dos camponeses.
“Não bastasse tudo isso, o governo desmontou uma estrutura fundamental, que era a do diálogo com a sociedade civil. Nós tínhamos construídos, nos últimos anos, processos bastante importantes através de conselhos nacionais, que trabalhavam no aspecto da formulação de políticas públicas de interesse social. Esses canais de diálogo foram rompidos. Essas estruturas de participação social foram absolutamente desmontadas”, reforça.
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“Isso tem dificultado o funcionamento das estruturas, a efetividade e, com isso, o governo vai demonstrando o seu efetivo interesse. Definitivamente, não é um governo que preza pela reforma agrária, que preza pelo desenvolvimento rural abrangendo todos os segmentos”, lamenta Rochinski.
Para o coordenador-geral da Contraf, estamos na vigência de um governo “desconectado daquilo que realmente precisa e daquilo que realmente acontece”.
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Edição: Rodrigo Chagas