Diante da velocidade de propagação do novo coronavírus, as populações rurais do Ceará aderiram ás orientações do governo estadual de manter o isolamento, ou seja, a permanência em casa saindo apenas para questões emergenciais. Movimentos sociais e entidades se articulam para difundir informação e auxiliar a população na tarefa da quarentena.
O setor de saúde do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) tem feito um trabalho de orientação sobre cuidados com a alimentação das famílias assentadas e acampadas, assim como sobre a necessidade do respeito ao isolamento em casa. “Para além de ficar em casa, o nosso povo está, em muitos assentamentos, cuidando dos quintais, da roça, produzindo e fazendo muitas leituras. Nós acreditamos que o período que vem será muito difícil. Essa guerra contra a doença vai deixar um resultado que precise de uma organização social tanto na cidade como no interior. Estamos nos preparando também para os assentamentos ajudarem os grandes centros, sabemos que vai ter um problema alimentar”, afirma Gene Santos, direção nacional do MST.
Segundo a Secretaria de Saúde do Governo do Estado do Ceará, até esta sexta-feira (27), o estado tem 238 casos de covid-19 confirmados. Destes, somente 14 pessoas diagnosticadas residem fora da capital – 13 na zona rural do estado, em Aquiraz (6), Fortim (1), Juazeiro do Norte (1), Sobral (4), Groaíras (1) e Mauriti (1).
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Isolamento e vulnerabilidade
Para o coordenador executivo da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) no estado do Ceará, Marcos Jacinto, o isolamento é crucial para a proteção das populações do campo e munícipios do interior. “Essas populações estão com menor incidência de contaminação pela covid-19 exatamente porque estão nessa condição de isolamento, mas por outro lado, essas pessoas estão em condição de vulneráveis, pois possuem baixo acesso aos serviços públicos de saúde”, afirma.
Uma preocupação que se tornou forte entre as populações rurais é que os parentes que vivem na capital e nas sedes dos municípios não se desloquem para visitar a família durante esse período. Campanhas com motes como “fique em casa por amor” e “não visitar é cuidar” começaram a surgir nas redes sociais para sensibilizar sobre não se deslocar para o interior.
“É imperativo que neste momento reforcemos a orientação às pessoas que vivem nas capitais, que permaneçam em suas casas, que não venham para o interior e para as comunidades rurais. Cuidar e proteger as populações do Semiárido é um dever de todos e não há nada mais importante a fazer nesse momento de que manter o isolamento social e a distância física”, reforça o coordenador da ASA.
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Populações tradicionais
Outras populações tradicionais, como os povos indígenas, quilombolas e os ciganos também aderiram ao isolamento social e reforçam o pedido de não visitação durante esse período. Em nota, a Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Estado do Ceará (Fepoince), lembrou que os povos indígenas, ao longo dos séculos, foram fortemente atingidos por epidemias; gripe, varíola, tifo e sarampo são algumas das doenças trazidas por pessoas não indígenas que dizimaram milhões de pessoas indígenas, causando o extermínio de muitos povos originários.
“Se faz necessário todo cuidado e resguardo para com os povos indígenas. Nesse momento conclamamos a todas as pessoas que se resguardem nas suas casas. E aos nossos irmãos indígenas que não saiam de suas aldeias. Mais do que nunca precisamos fechar as porteiras das aldeias, não precisamos de visitas nesse momento. Poderemos receber nossos parentes não indígenas quando esse grande mal passar”, alerta Ceiça Pitaguary, coordenadora da Fepoince.
Para o presidente do Instituto Cigano do Brasil, Rogério Ribeiro, cigano calón residente em Fortaleza, mesmo que no Ceará não haja mais uma grande cultura de acampamentos entre o povo cigano, a preocupação é alta com a pandemia do novo coronavírus.
“No Ceará não temos a cultura de acampamento, mas moramos em comunidade. Os homens são comerciantes e muitas mulheres leem mãos, então, a questão de sobrevivência ficou muito difícil também”, comenta. Até agora, segundo Rogério, não existe nenhum diagnóstico positivo entre os ciganos do Ceará e as comunidades tem seguido a orientação do isolamento. Segundo o Instituto Cigano do Brasil, o Ceará tem uma população cigana com cerca de 20 mil pessoas. A população cigana tem procurado se movimentar em campanhas de solidariedade e de alerta às autoridades sobre a situação de vulnerabilidade que poderá atingir essa população em especial.
Fonte: BdF Ceará
Edição: Monyse Ravena