Diante da crise do coronavírus no país, os nove governadores que compõem o Consórcio do Nordeste, em reunião virtual na sexta-feira (20), lançaram documento que exige do governo federal a suspensão do corte de 96 mil benefícios do Bolsa Família. Esses cortes representam 61% do cancelamento de 158 mil bolsas no país, anunciado pelo governo Bolsonaro, que anteriormente havia prometido aumentar o programa.
“Não justifica, neste momento de calamidade que nós estamos vivendo, o Governo Federal, só no Nordeste, cortar 96 mil benefícios só neste mês. É preciso ter alguma sensibilidade social e proteger as pessoas mais pobres”, afirmou o governador da Bahia Rui Costa (PT), presidente do Consórcio Nordeste, após a reunião, em mensagem divulgada nas redes sociais.
Ainda de acordo com Rui Costa, os gestores nordestinos vão fortalecer o pedido dos 27 governadores do Brasil para se reunirem com pelo menos dois ministros de Estado, especificamente os da pasta da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e da Economia, Paulo Guedes. O objetivo é que todos os estados possam adotar medidas cabíveis diante da crise agravada pela pandemia.
Desumano
“É desumano! É maldoso! Cerca de 61% do total foi retirado do Nordeste. É o menor número de beneficiários desde maio de 2017. Os cortes aumentam a miséria no país”, afirmou a deputada federal Marília Arraes (PT-PE), pelas redes sociais.
“Canalhas! Esse governo que massacra os pobres deve ser alijado do poder”, afirmou o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP).
Na reunião, os governadores também decidiram ampliar o processo de compras conjuntas de equipamentos e insumos médicos para enfrentar a crise do coronavírus na região. A compra conjunta para baratear custos é um dos principais objetivos do consórcio, desde que foi criado.
No Facebook, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), informou que o novo hospital adquirido pelo governo do estado, com 230 leitos extras, “já está sendo preparado pela Secretaria da Saúde para começar a funcionar a partir do próximo domingo exclusivamente para receber pacientes com coronavírus, além dos outros equipamentos estaduais, que contam com alas destinadas a esse tratamento”.
O governador também fez um apelo para todos os prefeitos cearenses para que ajudem a fazer cumprir decreto que visa o isolamento social neste momento de proliferação do vírus. “Todos temos que estar unidos nessa missão”, afirmou.
Isolamento e impactos
A reunião desta sexta-feira (20) do consórcio teve participação do vice-presidente da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, para trocar experiências e buscar soluções conjuntas visando ao enfrentamento e controle da pandemia do coronavírus.
Questionando sobre a possibilidade de isolamento total, Barbosa explicou sobre a importância de as medidas adotadas pelos governos serem sustentáveis, já que o prazo ainda é incerto e o impacto social econômico pode ser muito grande. “Não temos uma prescrição objetiva, mas seguramente, os estados que não têm transmissão comunitária, se começarem a tomar medidas de distanciamento social muito rígidas podem não sustentar por muito tempo. Por outro lado, se deixa pra fazer no pico, pode ter hospitais e UTIs sobrecarregados demais”, disse.
Pedido de ajuda à China
O Consórcio do Nordeste, composto pelos nove governadores da região, enviou ofício ao embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, no qual solicita oficialmente colaboração para envio de materiais médicos, insumos e equipamentos para combater o coronavírus. No texto, eles se apresentam como representantes de 57 milhões de brasileiros. “Alguém tem que nos socorrer de verdade", declarou o governador do Piauí, Wellington Dias (PT).
Em nota, Dias aponta que a China se preparou para uma crise muito maior e tem ritmo de produção. "Podemos receber doação, mas se a China pode vender por um preço justo, podemos comprar para pagamento em prazo compatível, mas aqui no Brasil o governo precisa autorizar. Precisamos de ventiladores, kit proteção, kit exames, etc, e temos uma frota gigante de aviões parados que podem transportar", declarou.
Crise diplomática
Nesta semana, a família de Jair Bolsonaro se envolveu em mais uma briga diplomática por meio das redes sociais. Desta vez, o deputado Eduardo Bolsonaro, candidato a ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos até 2019, atribuiu ao Partido Comunista Chinês a pandemia causada pelo coronavírus.
Em seu Twitter, ele afirmou que “quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução”.
E também replicou de um outro perfil a seguinte mensagem: “A culpa pela pandemia de coronavírus no mundo tem nome e sobrenome. É do Partido Comunista Chinês”.
Em resposta, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, repudiou “veementemente” a atitude do deputado e exigiu desculpas ao povo chinês. "Lamentavelmente você é uma pessoa sem visão internacional, nem senso comum, sem conhecer a China, nem o mundo. Aconselhamos que não corra para ser o porta-voz dos EUA no Brasil, sob a pena de tropeçar feio”, afirmou o embaixador.