Europa

Lula fala sobre avanço da extrema-direita no Brasil em encontro com Sarkozy na França

A escalada autoritária do governo Bolsonaro foi o tema discutido entre os ex-presidentes

Brasil de Fato | São Paulo |
Em conversa com Sarkozy, Lula diz que "Moro escancarou sua parcialidade" ao fazer parte do governo - Ricardo Stuckert

Em viagem pela França, onde recebeu o título de cidadão honorário de Paris na segunda-feira (2), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou com o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy (2007 - 2012) nesta quarta-feira (4).

“Refletimos juntos sobre o avanço da extrema direita no Brasil e no mundo. Ele relatou observar com preocupação a escalada autoritária do governo Bolsonaro. E disse que o Moro escancarou sua parcialidade ao aceitar fazer parte desse governo”, postou Lula em sua rede social.


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro com o ex-mandatário francês Nicolas Sarkozy, em Paris, acompanhado de Dilma Rousseff e Fernando Haddad / Ricardo Stuckert

Durante sua viagem pela França, Lula se encontrou com diferentes lideranças políticas e intelectuais. Saiba quais foram os principais encontros de Lula na França.

François Hollande

Essa semana Lula já havia encontrado outro ex-presidente Francês, François Hollande (2012-2017). Integrante do Partido Socialista francês, Hollande venceu a disputa com Sarkozy, candidato à reeleição e foi eleito com 52% dos votos. Sua vitória marcou o retorno da esqueda à presidência da França 17 anos após o fim do segundo mandato do ex-presidente socialista François Miterrand, em 1995.

Entre os marcos da gestão de Hollande estão a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a reforma das leis trabalhistas. “Conversamos muito sobre a conjuntura no Brasil e na França e as tarefas que precisamos cumprir para retomar os governos de inclusão e com mais justiça social””, postou no Twitter o ex-presidente brasileiro após o encontro.

Anne Hidalgo


The first female mayor of Paris, Anne Hidalgo, explains the award was in recognititon of Lula's actions agains hunger and poverty / Alain Jocard/AFP

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, foi a responsável pela iniciativa de tornar Lula cidadão parisiense. Nascida na região espanhola da Andaluzia durante a ditadura de Francisco Franco, Hidalgo migrou com sua família para a França e obteve cidadania aos 14 anos. Integrante do Partido Socialista desde 1994, Hidalgo foi a primeira mulher a administrar a capital francesa, cargo que ocupa desde 2014

Em sua fala, ao conceder a honraria ao ex-presidente, Hidalgo teceu elogios ao político e afirmou que ter Lula como cidadão honorário era uma grande virtude para Paris.

“É uma honra atribuir esse título a uma grandíssima personalidade como Lula. É um título que demonstra nossos valores, atribuídos àqueles que lutam pela humanidade”, disse a prefeita. Em seguida, Hidalgo afirmou ter esperança de ver um Brasil “renovado”, com Lula

A prefeita parisiense disputa a reeleição e contou com a presença de Lula, Dilma Rousseff e Fernando Haddad em um evento de campanha.

Thomas Piketty

Na terça-feira (3), Lula discursou na Escola de Economia de Paris, a convite do economista Thomas Piketty, que coordena um laboratório de estudos sobre desigualdade no mundo.

O ex-presidente falou sobre a experiência brasileira de combate à miséria durante os governos petistas“Nós temos que expor a desigualdade como um problema político, uma questão de dignidade humana. Não haverá diminuição da desigualdade se a gente não mexer no coração da riqueza”, afirmou Lula.

Autor de O Capital no Século XXI - publicado pela primeira vez na França em 2013 o livro ultrapassou a marca de um milhão de cópias vendidas – Piketty aponta que a taxa de acumulação de renda é maior que as taxas de crescimento econômico nos países desenvolvidos e defende a taxação de fortunas para combater essa discrepância que classifica como uma ameaça à democracia.

Jean-Luc Mélenchon


Lula encontrou 0deputado francês Eric Coquerel e o líder do grupo França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon / Ricardo Stuckert

Lula iniciou seus compromissos na França no domingo (1), reunindo-se com políticos como o deputado francês Eric Coquerel e o líder do grupo França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que visitou Lula em Curitiba quando o ex-presidente estava preso na sede da Polícia Federal.

Mélenchon nasceu no Marrocos, mas mudou-se para a França aos 11 anos. No país europeu, passou a se envolver com política desde muito jovem construindo carreira no partido socialista. Com uma impressionante capacidade de mobilização, logo passou a se destacar em atos públicos e em embates com outros campos ideológicos franceses. Chamado de “fenômeno de popularidade”, por cientistas políticos, Mélenchon chegou a reunir mais de 100 mil pessoas em um comício na Praça da Bastilha, símbolo da Revolução Francesa de 1789.

Eleito senador e com passagens como ministro, Mélenchon fundou em 2016 o França Insubmissa (La France insoumise), movimento que sempre apoiou a libertação do ex-presidente Lula e o considerava um preso político. “Considero Lula um semelhante, um amigo, uma figura muito importante em nossa família ideológica. Sou um herdeiro de Lula, como toda a nova esquerda europeia é.”

Sebastião Salgado


O renomado fotógrafo Sebastião Salgado realizou inúmeros registros nos territórios amazônicos / Foto: Ricardo Stuckert

Na segunda-feira (2), Lula reuniu-se com o fotógrafo Sebastião Salgado na manhã de segunda-feira (2), em Paris. “Tivemos uma boa conversa sobre a Amazônia, desenvolvimento sustentável, a riqueza da biodiversidade brasileira e os desafios para lutar pela sua preservação’, postou Lula no Facebook.

Reconhecido mundialmente, Salgado é considerado o fotógrafo brasileiro mais importante, com inúmeros e premiados trabalhos que retratam as injustiças sociais, a natureza e povos nativos, principalmente no território amazônico.

Em 1981, trabalhando como repórter fotográfico do jornal New York Times, foi o único profissional a registrar o atentado ao presidente norte-americano Ronald Reagan, o que lhe deu destaque internacional. De lá para cá, publicou livros marcantes sobre lugares inóspitos, populações esquecidas e tragédias ambientais como a do garimpo de Serra Pelada. Seu trabalho foi tema do documentário O Sal da Terra. Dirigdo por Win Wenders e Júlio Salgado, o filme foi premiado com o Oscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem.

Edição: Leandro Melito