O julgamento do fundador do site Wikileaks, Julian Assange, começou nessa segunda-feira (24), em Londres e deve decidir até sexta-feira (28) se o ativista será extraditado para os Estados Unidos, onde é acusado de espionagem e pode ser condenado a cumprir uma pena de até 175 anos de prisão. A audiência está sendo presidida pela juíza Vanessa Baraitser no Tribunal de Woolwich Crown.
Assange está na prisão de Belmarsh, na capital inglesa, desde maio de 2019, quando foi retirado da embaixada do Equador pela polícia britânica. Ele enfrenta 18 acusações nos EUA pela publicação de documentos secretos que evidenciavam crimes de guerra cometidos pelos norte-americanos, assim como ações de espionagem e manuais de tortura.
A equipe de defesa de Assange, liderada pelo espanhol Baltasar Garzon, aponta que as acusações de espionagem são, na verdade, perseguição política e que há uma grave violação da liberdade de imprensa e de direito de informar, ao mesmo tempo que alertam para as frágeis condições de saúde do fundador do Wikileaks.
Na porta do tribunal, Kristinn Hrafnsson, editor-chefe do Wikileaks, falou com a imprensa sobre as acusações do Pentágono de que as ações de Assange teriam colocado vidas em risco. “Muito pelo contrário, oficiais do Pentágono foram obrigados a admitir, durante o julgamento Manning, que não houve danos físicos a ninguém por causa das revelações que divulgamos em 2010 e 2011”, afirmou.
Hrafnsson chamou atenção para o fato de as revelações divulgadas por Assange e pelo portal não estarem em debate.“Agora, em 2020, estamos na corte de novo e eles não conseguem produzir sequer uma evidência que alguém sofreu danos físicos. Por que não estamos aqui na corte falando sobre os crimes de guerra, o assassinato de pessoas inocentes, a morte de jornalistas da Reuters? É esse tipo de coisa que devíamos estar discutindo em uma corte nesse país, ou nos Estados Unidos, mas não estamos”.
O editor-chefe afirmou ainda que "o que está sendo julgado é o jornalismo” e comentou sobre a expectativa de uma decisão em Londres, em vez de um julgamento nos Estados Unidos.
“Esperamos que será um tribunal imparcial, mas só saberemos no final. Hoje à tarde, e especialmente amanhã e ao longo do dia seguinte, as verdadeiras notícias sobre esse julgamento serão divulgadas. É quando a equipe de defesa apresentará seus argumentos, provas muito concretas, que garanto, vão surpreender a todos e provam que o pedido de extradição deve ser retirado”.
Assange deve retornar ao Tribunal de Woolwich Crown ao longo da semana, quando ocorrem novas sessões na corte. O julgamento, então, será adiado e retomará em 18 de maio, por mais três semanas. A decisão da Justiça pode ser objeto de recurso.
Manifestações de apoio
Uma multidão de apoiadores se reuniu do lado de fora do julgamento para clamar contra a extradição de Assange.
“Estamos aqui para apoiar vigorosamente e com firmeza Julian nesta ação política e de opressão de dez anos que atingiu seu ponto culminante aqui em Belmarsh”, disse seu pai, John Shipton, a repórteres do lado de fora do tribunal, que fica ao lado da prisão.
Shipton, ele próprio um ativista anti-guerra em sua juventude, atacou “a opressão do jornalismo [e] a perseguição incessante” dirigida contra seu filho. Ele voltou a chamar a atenção para a “detenção arbitrária de Julian por dez anos”, bem como seu tratamento desumano e degradante na prisão de Belmarsh, na HM, que representou tortura, segundo o relator da ONU, Nils Melzer.
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O pai do ativista também participou da marcha até o Parlamento britânico, em Londres, que aconteceu neste sábado (22) e reuniu centenas de pessoas, entre elas o músico Roger Waters e o ex-ministro de Finanças grego e líder da Frente Europeia de Desobediência Realista, Yanis Varoufakis.
*Com informações da RT.
Edição: Douglas Matos