Ainda em curso a contagem de votos nas eleições presidenciais bolivianas, o presidente Evo Morales fez um comunicado público, nesta quarta-feira (23), no qual pede o respeito aos setores populares e convoca a população a “defender a democracia”.
A contagem de votos das eleições realizadas no último domingo (20) ainda não foi finalizada. A oposição, mesmo antes das eleições, alega que não aceitará a derrota em primeiro turno, só trabalhando com o cenário de segundo turno.
Em meio a protestos dos opositores, Morales alertou nesta quarta para uma possível tentativa de golpe em curso no país. “Não semeiem ódio e o desprezo pelos setores populares. Todos somos seres humanos”, criticou o presidente, sinalizando que há um discurso racista por parte dos oposicionistas ao desqualificar os votos dos indígenas.
Também pediu que não se tome ações que prejudiquem a situação econômica do país, por meio de greves em alguns departamentos (estados no país) que tenham como pano de fundo a tentativa de um golpe de Estado.
Na contagem oficial, realizada manualmente, foram mais de 96% das urnas computadas. Evo Morales segue na dianteira, com 46,03% dos votos; já o segundo lugar, o opositor Carlos Mesa, tem 37,35%.
Para vencer a disputa presidencial em primeiro turno, basta ter 40% dos votos e abrir dez pontos percentuais de vantagem em relação ao segundo colocado.
Assim, com pouco mais de 3% de urnas faltantes, Evo precisar tirar 1,32 ponto percentual para ganhar em primeiro turno. Caso isso não ocorra, haverá segundo turno e a votação será realizada no dia 15 de dezembro.
Na contagem do sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Parciais (TREP), baseado em informações dos colégios eleitorais, as urnas apuradas ficam em 95,63%, com uma diferença parecida entre os dois candidatos. No entanto, esse sistema está paralisado há mais de 24h, segundo o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), para não gerar conflitos com o sistema manual.
Apoiadores do governo estão esperançosos, já que as urnas faltantes são as que representam setores camponeses e indígenas, históricos partidários de Evo. Já a oposição trabalha com a perspectiva de segundo turno, e qualquer cenário em que isso não ocorra, será declarada fraude eleitoral.
Auditoria das urnas
Frente aos ataques opositores sobre uma possível fraude eleitoral, o governo da Bolívia solicitou nessa terça-feira (22) que a Organização dos Estados Americanos (OEA) realize uma "auditoria especial" da apuração dos votos. "Entregamos a nota oficial ao secretário da OEA, Luis Almagro, em Washington. Estamos solicitando que seja realizada uma auditoria especial, uma verificação de uma a uma das tas de votação do último 20 de outubro", anunciou o chanceler boliviano, Diego Pary.
O ministro das Relações Exteriores garantiu que será o próprio órgão internacional, "em função de sua disponibilidade técnica, seus recursos, que decidirá quando iniciar este processo, mas estamos solicitando com base na transparência que se possa iniciar o mais breve possível".
A presidenta do TSE, María Eugenia Choque, também na terça-feira, rebateu as acusações de fraude eleitoral feitas pela oposição. Ela afirmou que: "Esse processo está supervisionado e administrado por uma auditoria, não por nós, mas sim por uma empresa e a empresa também nos dirá se esses resultados são fraudulentos. Senhoras e senhores, [os resultados] não são fraudulentos porque eles estão apresentados e cada um dos cidadãos e organizações políticas nos acompanharam".
"Como é possível que nos digam que houve fraude?", questionou Choque. "Não escondemos nenhuma informação para que hoje falem de fraude. Não há nada para esconder. Deveriam deixar as especulações de lado".
Edição: Vivian Fernandes