1) Apesar da ampla mobilização de caminhoneiros autônomos, o movimento foi dirigido politicamente pelos empresários do setor de transporte, que usaram os autônomos como massa de manobra. Na primeira chance, esses empresários fecharam acordo com o governo e os abandonaram. Ou seja, trabalhador não pode confiar em patrão, mas no movimento sindical.
2) Como a direção do movimento foi dos empresários, a solução foi neoliberal: cortar impostos que incidem sobre o diesel. Todavia, tais tributos, como o Cofins, destinam-se ao financiamento da Seguridade Social. Ou seja, o corte prejudica os próprios trabalhadores, pois sucateia o SUS e a previdência social, dando pretextos para a privatização da saúde e a reforma da previdência.
3) O aumento sucessivo dos preços permanecerá porque o verdadeiro problema continua: a fixação do preço de acordo com o valor do dólar e do preço internacional do barril de petróleo. Podemos extrair petróleo a 12 dólares/barril, mas o preço internacional é de 70 dólares!
4) Quem se beneficia disso são as multinacionais do petróleo, interessadas na privatização da Petrobrás. Exportamos petróleo cru e importamos seus derivados, quando podemos refinar boa parte no Brasil. A Petrobrás está com capacidade ociosa em suas refinarias, que estão sendo vendidas, deixando de gerar emprego e ferindo a soberania nacional.
5) Quando, solidariamente, os petroleiros anunciaram greve, imediatamente a Justiça do Trabalho decretou sua ilegalidade e fixou multa em R$ 500.000/dia, aumentando depois para 2 milhões/dia. Ou seja: a justiça, que nada fez contra empresários de transporte, tem lado e persegue o movimento sindical. É preciso a mais ampla unidade dos trabalhadores na luta contra esse governo.
6) O bloco empresarial que sustenta Temer dividiu-se frente à crise econômica e à priorização dos interesses estrangeiros. E na medida em que Temer cede a reivindicações dos autônomos, desagrada ao agronegócio, que tem resistido à fixação do preço dos fretes, perdendo mais apoio.
7) Por fim, as coisas só mudarão se o projeto político que hoje dirige o país também mudar com as eleições de 2018. Figuras como Alckmin, Bolsonaro e Marina Silva, defensores do neoliberalismo, apoiadores do golpe e base do governo Temer, estão comprometidos em manter essa política entreguista.
*É professor da UFCG, médico e militante da Consulta Popular.
Edição: Paula Adissi