Deputados de oposição anunciaram, nesta terça-feira (9), na Câmara dos Deputados, que seguirão em obstrução contra a reforma da Previdência no plenário. O comunicado foi feito após reunião dos partidos PT, PSOL, PSB, PDT, PCdoB e PV, que atuam de forma conjunta contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 6/2019, nome oficial da matéria.
Com uma articulação conduzida pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o governo busca agilizar a tramitação da PEC para tentar votar o relatório do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) nesta quarta (10).
Os apoiadores do projeto sustentam a possibilidade de estender as sessões do plenário desta semana até sexta (11) para tentar votar a medida nos dois turnos de votação previstos. A pressa se dá por conta do recesso parlamentar, que tem início oficialmente no dia 18 deste mês, o que tende a dificultar a aprovação de uma matéria como a PEC 6 na próxima semana.
Para desacelerar a tentativa de votação, os opositores apresentarão requerimentos de retirada de pauta e adiamento da votação. Esse tipo de pedido faz parte do chamado “kit obstrução”, técnica prevista no regimento da Casa e utilizada por parlamentares quando há oposição a uma determinada pauta e por isso se tenta evitar ao máximo sua aprovação.
O líder da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ), afirma que a obstrução da PEC 6 é também uma forma de ganhar tempo para popularizar as discussões sobre o tema.
“Queremos o mais amplo debate, sobretudo pra mostrar pra população brasileira que é inaceitável uma proposta de reforma que retira R$ 20 bilhões de professores e policiais pra dar R$ 83 bilhões pra ruralistas”, disse.
A declaração do parlamentar é uma referência à polêmica orçamentária que cerca a proposta. Ao mesmo tempo em que promove arrocho fiscal sobre determinadas categorias profissionais, o relatório aprovado na comissão especial que discutiu a PEC ganhou um destaque – apresentado pelas siglas PP, PTB, MDB –, prevendo renúncia fiscal no total de R$ 83 bilhões durante o prazo de 10 anos para o agronegócio.
A oposição aponta que esse e outros trechos do relatório seriam alvo de incompreensão da população. Para os parlamentares do campo, a falta de um debate mais capilarizado sobre a PEC teria sido responsável, por exemplo, pelos índices divulgados nesta terça (9) pelo jornal Folha de S. Paulo a respeito da opinião pública sobre a reforma. De acordo com pesquisa Datafolha, 47% dos entrevistados se mostraram favoráveis à pauta, enquanto 44% são contrários.
Números em disputa
Os números foram comemorados por governistas e aliados e passaram a contar, no jogo político, como instrumento de pressão sobre deputados indecisos. Segundo Molon, a obstrução que será feita à PEC no plenário se soma às demais tentativas da oposição de vencer a disputa de narrativa em torno da reforma, alvo também de uma forte campanha publicitária promovida pelo governo para tentar ganhar a opinião pública. A oposição se queixa que a campanha não teria esclarecido ao certo conteúdo da reforma.
“Queremos usar o debate para contar isso à população. Sem saber disso, já temos [quase] metade da população contra a reforma. Quando o resto entender que essa proposta retira do povo para dar pros ruralistas, o resto vai ficar contra também”, acredita o líder da oposição.
A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), vice-líder da minoria, sublinha que a decisão da oposição de obstruir a pauta está em sintonia com o que tem sido demonstrado por segmentos populares que atuam na defesa dos direitos dos trabalhadores.
“Estamos conectados com as centrais sindicais, com todas as organizações de servidores públicos, federações, e os atos [em protesto contra a reforma] seguirão até sexta-feira. A minoria e a oposição estão trabalhando com essa relação com os movimentos sociais. Acredito que os deputados da base do governo e aqueles que foram incorporados a ela por diversos motivos possam se preocupar com o rebote disso nas suas bases”, afirma.
Atualizada às 13h21 de 10/07/2019
Edição: Daniel Giovanaz