Centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de esquerda da Argentina realizam nesta quarta-feira (29) a quinta greve geral desde que Mauricio Macri assumiu o governo, em 2015. A paralisação acontece em protesto contra a política econômica do presidente, que resultou em uma alta generalizada da inflação e no pedido de um empréstimo ao FMI (Fundo Monetário Internacional).
A greve se faz sentir, especialmente, na capital Buenos Aires. Ônibus e metrô não abriram hoje, e voos comerciais partindo do Aeroparque, aeroporto próximo do centro da cidade, foram cancelados. Segundo o jornal Página/12, escolas, bancos e comércio em geral devem permanecer fechados. Hospitais atendem casos de urgência.
Acessos à capital também estão interrompidos por manifestantes. Há relatos de violência policial contra manifestantes em um dos bloqueios na cidade.
“[A greve] É para dizer ao governo que ele deve tomar providências, porque o debacle e a queda são sistemáticas. Alguns ganharam bastante e, se não se pega o touro pelos chifres, a crise será cada vez pior”, afirmou Héctor Daer, co-secretário-geral da CGT (Confederação Geral do Trabalho da Argentina) ao jornal.
A ministra de Segurança do governo Macri, Patricia Bullrich, ameaçou com o uso da força contra os grevistas. “Estamos fartos das paralisações, de que vira e mexe façam uma. É a quinta paralisação. Quando há um governo que não é do partido dos sindicalistas, acontece isso”, afirmou.
Crise econômica
A alta da inflação e a crise econômica que atravessa a Argentina têm tido efeitos práticos no cotidiano da população. Dados da Direção Geral de Estatísticas e Censos (DGEeC) mostram que a cesta básica total (CBT) em Buenos Aires aumentou 3,4% no mês de abril de 2019 em comparação com o mês de março do mesmo ano, e 57,6% em 12 meses.
No mês de abril, uma família composta por duas pessoas adultas de 35 anos e duas crianças entre 6 e 9 anos precisaria ter um rendimento mensal de 29.304,13 pesos (cerca de R$ 2.600) por mês para escapar da linha de pobreza. O valor no mês de março era de $ 28.330,36 (aproximadamente R$ 2.500) e, em abril do ano passado, $ 18.597,17 (pouco mais de R$ 1.600).
O Instituto Nacional de Estatísticas e Censos da Argentina (Indec) usa dois tipos de cesta básica para determinar a pobreza da população: a Cesta Básica Alimentar (CBA), que compreende itens básicos de alimentação, e a CBT, que contém todos os itens da primeira mais bens e serviços não alimentares como transporte, roupas, educação etc. Famílias que não possuem rendimento suficiente para adquirir a CBT são classificadas como pobres; as que não conseguem pagar a CBA, estão na situação de pobreza extrema.
Pobreza e inflação
Segundo os últimos dados do Indec, referentes ao segundo semestre de 2018, a pobreza na Argentina atinge 14,3 milhões de pessoas, 3 milhões a mais do que o mesmo período em 2017. Cerca de 32% da população do país é pobre.
Ainda de acordo com os números, 2,9 milhões de pessoas passaram para a situação de pobreza nas zonas urbanas do país. Comparado ao primeiro semestre de 2018, antes do governo pedir o empréstimo de 56,3 bilhões de dólares ao FMI, a pobreza aumentou 4,7%.
A inflação de abril deste ano ficou em 3,4% e, no acumulado de 12 meses, chega a 55,8%. Nos primeiros quatro meses de 2019, a alta é de 15,6%.
No final de abril, o presidente Mauricio Macri anunciou o congelamento dos preços de 64 produtos considerados essenciais para tentar conter a inflação. Quinze dias depois do início da medida, um levantamento realizado pela Defensoria Pública da província de Buenos Aires indicou que 49% dos produtos incluídos no congelamento estavam em falta nos supermercados da região.
Edição: Opera Mundi