Religião

PT avalia que a esquerda deveria dar mais atenção ao povo evangélico

Análise foi feita em encontro que ocorreu nesta sexta-feira (05) em São Paulo (SP) para debater o tema

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Evento reuniu pessoas de várias cidades e contou com a participação da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, e da deputada Benedita da Silva
Evento reuniu pessoas de várias cidades e contou com a participação da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, e da deputada Benedita da Silva - João Heitor

Com louvores e orações, começou nesta sexta-feira (05) o I Encontro de Evangélicos e Evangélicas do Partido dos Trabalhadores (PT), em São Paulo, organizado pela Fundação Perseu Abramo. Participaram do evento fiéis e pastores de 12 estados do país.

A mesa de análise de conjuntura contou com a presença da deputada federal Benedita da Silva (PT) e da presidenta do partido, Gleisi Hoffmann, além de Lúcio Centeno, da Frente Brasil Popular, e Isabel dos Anjos, da Fundação. 

Formas de se aproximar dos evangélicos -- considerados um dos principais grupos de apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) -- e a retomada dos trabalhos de base estavam entre as pautas centrais do evento, que vai até sábado (06).

A mesa convidada debateu o avanço da extrema-direita no âmbito global e os desafios para o próximo período a partir da eleição de Bolsonaro. Junto a isso, os ataques aos direitos sociais a partir da flexibilização do porte de armas e da Reforma da Previdência, o fortalecimento dos movimentos sociais e a prisão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram tema da conversa. 

Para Benedita, houve um erro da esquerda de não saber dar atenção ao povo evangélico. Ela acredita que é preciso relembrar o espiritualismo e a religiosidade ao fazer política. “Temos que olhar de Gênesis ao Apocalipse e encontrar exatamente o que devemos fazer. Lá estão as instruções necessárias para uma luta de classes que se instalou no mundo. Não existe algo mais revolucionário que a bíblia”. Disse ainda que o caráter revolucionário do evangelho tem o poder de mudar a vida das pessoas e mudar a autoestima, e é desse evangelho que se precisa falar. 

“Temos que chegar ao povo evangélico mostrando tudo o que foi construído por Lula e por nossa Constituição Federal, que está sendo jogado fora. O PT nasceu das discussões das comunidades de base, influenciado pela linha cristã e pelos ensinamentos de Jesus Cristo. É o partido da vida, do respeito e do amor”, acrescentou Gleisi. 

A presidente ressaltou a necessidade ir ao encontro da base evangélica que, enganada pelas fake news e por pastores conservadores, elegeu Bolsonaro, mesmo tendo sido eleitores de Lula. “Os militantes evangélicos do PT têm o grande desafio de conversar com a totalidade do povo evangélico para mostrar a verdade”, disse. 

Lula também foi o melhor presidente para a população evangélica, empoderando a iniciativa das igrejas e respeitando todas as religiões, acredita Benedita. A prisão política do ex-presidente foi denunciada na maioria das falas do evento. “Lembrai-vos dos presos como se estivésseis presos com eles. (Hebreus 13:3-13). Não podemos deixar o Lula naquela cadeia. É preciso que a gente ouça o que o espírito diz a igreja.”

Para Luis Sabanay, teólogo, pastor presbiteriano e assessor da Secretaria Nacional de Movimentos Populares do PT, é preciso reconhecer que o povo latino-americano é um povo de fé e a religião faz parte do cotidiano popular. “A primeira ideia do evento é entender qual o papel e onde estão esses evangélicos na sociedade. A segunda grande questão é fazer o enfrentamento da conjuntura”, disse. 

O ex-presidente da Associação Evangélica Brasileira e um dos fundadores da Frente de Evangélicos Pelo Estado de Direito, pastor Ariovaldo Ramos, disse que a direita conseguiu vender para os evangélicos que a esquerda é o “inimigo comum”. 

"[Eles dizem que nós vamos] acabar com a igreja, transformar a índole do meu filho, da minha filha. Aí para você dizer o contrário não é simples”.

Já Edin Sued Abumanssur, professor de sociologia da religião na PUC-SP, ponderou que a ideia de que os evangélicos tenham sido a principal base de apoio para eleger Bolsonaro.

"Os evangélicos não são nem de direita nem de esquerda. Dizer que os evangélicos elegeram Bolsonaro é um equivoco. Quem os evangélicos ajudaram a eleger no Maranhão? Um governador do PCdoB. Às razões para o evangélico votar em A ou B são as mesmas razões para qualquer pessoa votar em A ou B." E concluiu: "O evangélico não votou no Bolsonaro porque é evangélico, votou porque 57 milhões de pessoas votaram no Bolsonaro".
 

Edição: Aline Carrijo