A campanha “No Meu Bule Não”, vem promovendo um boicote contra as marcas de café que utilizam grãos do grupo Terra Forte Exportação de Café, do latifundiário João Faria da Silva. O objetivo é fortalecer a resistência contra a ordem judicial de despejo da fazenda Ariadnópolis (MG), onde 450 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) moram e produzem há mais de 20 anos.
João Faria da Silva é o maior produtor de café do Brasil e, segundo ele mesmo, vende seus
grãos para as marcas Nescafé, Pilão, Caboclo, Pilão e Seleto. O latifundiário pode se beneficiar do despejo, graças a um contrato de parceria para exploração agropecuária entre a Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (CAPIA) e a Jodil Agropecuária, de sua propriedade.
A usina falida Ariadnópolis pertencia à CAPIA, e fechou em 1996, deixando dívidas trabalhistas de mais de R$ 300 milhões.
Em uma lavoura de 1,8 milhão de pés, as famílias produzem o café Guaií, além de cultivar alimentos para subsistência como milho, feijão, amendoim e abóbora. Toda a agricultura da área ocupada, batizada pelas famílias de Quilombo de Campo Grande, segue o modelo de produção agroecológica.
A campanha “No Meu Bule Não” já alcançou cerca de 1 milhão de pessoas. A ideia da campanha foi do designer Gladson Targa, que também produziu as peças de divulgação, algumas já foram compartilhados por mais de 12,6 mil pessoas no Facebook.
“O MST e o acampamento todo lá salvou a terra que estava lavada de agrotóxico, as nascentes em volta estavam destruídas. Eles cuidaram de tudo isso e agora que está limpo, tudo pronto, eles querem pegar de volta, depois de 20 anos”, disse Targa.
A marca Café do Ponto informou ao Brasil de Fato, em nota, que não está comprando café da Terra Forte.
As famílias do Quilombo Campo Grande também cuidam de mais de 1,2 mil cabeças de animais como gado, galinha e porco para a subsistência.
“A partir da diversificação da produção e da forma agroecológica como encaramos a relação do homem e da mulher com o campo, nós contrapomos esse outro modelo que é o avanço do capital internacional e a retirada do homem e da mulher do campo”, disse a agricultora Tuira Tule.
João Faria da Silva, também conhecido como Barão do Café, é dono de sete fazendas de monocultura de café para o mercado interno e exportação, seis delas são em Minas Gerais, sendo quatro delas em áreas próximas do acampamento do MST.
O fazendeiro João Faria foi investigado Polícia Federal durante a Operação Rosas dos Ventos e teve que depor para explicar o seu envolvimento com o empresário Miceno Rossi Neto na criação de empresas acusadas de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Em 2014, segundo as informações do Ministério Público Federal, João Faria, por meio da empresa Jodil Agropecuária, ficou sócio de Miceno na criação da empresa Voar Participações.
Porém, tanto a Voar quanto a Victory, uma outra empresa de Miceno, foram criadas para lavar dinheiro e blindar o patrimônio dos sócios de futuras ações judiciais. Quando a Receita Federal começou a fiscalizar as empresas, a Polícia Federal interceptou ligações entre sócios e funcionários das empresas fantasmas onde se discutia a destruição de provas. O total do valor desviado pelo grupo chega a R$ 5 bilhões.
As marcas de café, que segundo João Faria compram a produção do grupo, foram procuradas pelo Brasil de Fato para comentar o boicote, mas não responderam. O grupo Terra Forte Exportação de Café também não comentou sobre o interesse da empresa na área onde fica o Quilombo Campo Grande.
Edição: Mauro Ramos