Minas Gerais

MST leva 10 quilos de documentos para comprovar atividades no Quilombo Campo Grande

Área ameaçada de despejo foi tema de audiência pública nesta quinta (22) e terá visita da Comissão de Direitos Humanos

Belo Horizonte |
Cerca de 300 trabalhadores compareceram à audiência e pedem o cancelamento do despejo
Cerca de 300 trabalhadores compareceram à audiência e pedem o cancelamento do despejo - Guilherme Bergamini/ALMG

A reintegração de posse do terreno do Quilombo Campo Grande, no Sul de Minas, teve mais um capítulo hoje (22). Uma acalorada audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais mostrou a posição de alguns dos deputados estaduais. De um lado, acusações de que a área não é produtiva, e de outro, a defesa das atividades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Os deputados Antonio Carlos Arantes (PSDB) e Bruno Engler (PSL) se embasaram na liminar do juiz Walter Zwicker Esbaille Júnior, e alegam que a ocupação é uma fraude. Arantes usou termos ofensivos como “vagabundos” frente aos 300 trabalhadores do MST que compareceram à audiência, aludindo que os agricultores não têm “mãos calejadas”. As acusações geraram revolta entre os participantes da audiência.

O principal argumento dos deputados Arantes e Bruno Engler foi de que a escola não está funcionando e as plantações são irrisórias. Além disso, afirmam que a área ocupada pelo movimento não era improdutiva, visto que existe um projeto de plantação de 2 milhões de pés de café para recuperar a Usina Ariadnópolis, falida em meados dos anos 90. A reportagem do Brasil de Fato requereu o documento ao deputado Arantes, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

Ocupação e resultados

O MST dá outra versão sobre o Quilombo Campo Grande. Segundo o movimento, na última safra foram produzidas 8,5 mil sacas de café, 55 mil sacas de milho e 500 toneladas de feijão. Já estão plantadas 1,7 milhão de pés de diversas culturas e mudas, e para 2019 a expectativa é plantar mais 1,3 milhão, totalizando 3 milhões de mudas e pés. O movimento lista ainda 418 casas, 1.200 cabeças de gado, 100 mil árvores e 20 mil galinhas.

A acusação de que a escola não está em funcionamento foi desmentida pelo superintendente regional de ensino, Erivelton Ramos. Ele confirma que dentro do assentamento há um anexo da Escola Estadual Dr. José Mesquita Netto, que possui quatro professores contratados pelo governo estadual e uma unidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA). A escola está em normal funcionamento, declara o superintendente.

Uma briga de modelos de agricultura

Uma das coordenadoras das famílias do Quilombo Campo Grande, Débora Vieira de Jesus, acredita que o pedido de reintegração de posse tem o objetivo de destruir o exemplo de agroecologia que o MST está construindo. “Quero saber qual a proposta que eles têm, e se for melhor que a nossa a gente abre mão. Eles destruíram mais de 10 nascentes. Soterraram tudo na época que usavam a fazenda para plantar girassol e tomate. Nós estamos há três anos fazendo recuperação, inclusive com resultado de nascentes que voltaram a brotar”, relata.

Débora mostra os 10 quilos de documentos que os trabalhadores rurais trouxeram para comprovar as suas atividades. Segundo ela, há registros das plantações, das duas décadas de ocupação da área e da produção do café orgânico Guaií. Junto também a cartas de apoio de 500 entidades de diversos países e um abaixo-assinado da população e comerciantes de Campo do Meio apoiando a permanência do MST na região.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal fará uma visita ao assentamento na segunda (26), onde também deve realizar uma audiência pública com os agricultores. A Comissão de Direitos Humanos da ALMG acompanha a visita, por requerimento do deputado estadual Rogério Correa (PT). O deputado pediu ainda um levantamento da dívida da empresa e um encontro entre a Comissão de Direitos Humanos da ALMG e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

Situação jurídica

O Quilombo Campo Grande recebeu na terça (20) uma carta precatória para começar a negociação de despejo das 450 famílias. O MST afirma que não vai enviar representantes à negociação, mas sim recorrer juridicamente à reintegração.

Edição: Joana Tavares