Com um forte operativo de segurança que se percebe ao caminhar pelas ruas, Buenos Aires se prepara para receber os líderes das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia na Cúpula do G20, nesta sexta-feira (30) e no próximo sábado (1). Além de decretar um feriado local no primeiro dia de reunião, o governo da Argentina anunciou a suspensão de quase a totalidade do transporte público e o fechamento de diversas vias da região central da cidade.
Para Carina López Monja, da Frente Popular Darío Santillán (FPDS), as medidas de paralisação da cidade para a realização da cúpula atingem não só os movimentos populares, que planejam sair às ruas para protestar contra o evento, mas toda a população da capital, em especial a mais pobre.
“Quem sai de sua casa por esses dias na Argentina é suspeito. Suspeito de [ser] terrorista, ‘esquerdista’, suspeito em um nível que estamos vivendo intolerâncias, xenofobia, racismo e repressão muito graves. Então, é aí que nós dizemos: militarizaram nossa cidade de Buenos Aires. Não vai ter aviões, não vai ter ônibus. Há forças de segurança por todos os lados, todas elas coordenadas”, afirma a militante.
Ainda que o governo esteja implementando um grande esquema de suspensão de serviços e fechamento de ruas, movimentos populares e sindicais e organizações de direitos humanos planejam realizar uma marcha contra o G20 em Buenos Aires amanhã, dia do início do encontro.
Já nesta quinta-feira (29), as atividades de protesto se concentraram na Cúpula dos Povos, também em frente ao Parlamento.
Repressão
A marcha dos movimentos em repúdio ao G20 foi autorizada pelo Ministério de Segurança da Argentina, mas a militante Carina López diz não confiar que as forças de segurança possam realizar um trabalho que garanta o direito à manifestação de quem se mobiliza contra a cúpula econômica.
“A ministra de segurança chegou a dizer que era melhor sair da cidade de Buenos Aires, que as pessoas não somente não fiquem em suas casas, mas fiquem diretamente fora da cidade, porque não podem garantir a segurança. Hoje o governo argentino não pode garantir a segurança de uma partida de futebol, imagine se tem como garantir a segurança das pessoas, muitas, massivas, que querem se expressar contra uma cúpula mundial de presidentes”, avalia.
A repressão policial contra militantes sociais é mais um elemento da crescente violência pela qual passa o país, como aponta Manuel Bertoldi, do Movimento Popular Pátria Grande e da Alba Movimentos.
“Lamentavelmente, nos últimos dias, sofremos o assassinato de companheiros da Confederação de Trabalhadores da Economia Popular que desenvolviam tarefas de solidariedade, militantes em diferentes territórios. E essa é uma política do governo que, frente à não construção de políticas públicas para construir horizontes de justiça social, utiliza as forças repressivas como mecanismo de controle e disciplinamento social. E entendemos que nesse marco se constrói o G20”, analisa.
Contexto econômico
A Cúpula do G20 ocorre em um momento delicado na Argentina. O país atravessa atualmente uma grave crise econômica, que sustenta cifras como a de inflação deste ano na faixa dos 30% e juros acima de 60%. A desvalorização do peso argentino frente ao dólar gera uma perda do poder aquisitivo da população, com o aumento do preço dos produtos.
“Para nós, é uma provocação que hoje se esteja realizando a Cúpula do G20 no país em um contexto em que os argentinos e as argentinas estamos vivendo uma crise econômica na qual a situação que se vive a cada dia é de demissões massivas, de repressão, de assassinato de militantes populares, de precarização cada vez maior e de um aumento de preços que não se pode aguentar mais, o preço dos alimentos, dos aluguéis, do transporte”, expõe Carina López, da FPDS.
Para Manuel Bertoldi, do Movimento Pátria Grande, a Jornada de Lutas contra o G20 não é somente em repúdio aos governos dos países com as principais economias do mundo, mas também em denúncia às empresas multinacionais, que constroem um projeto que tem como único objetivo o lucro.
“Na sexta-feira, vamos fazer uma grande mobilização até o Congresso Nacional para denunciar essa Cúpula do G20, porque entendemos que o mundo está atravessando momentos muito difíceis, em que se acentua a pobreza, os excluídos. Há milhões de pessoas que estão sendo forçadas a sair de suas casas e de seus territórios, e entendemos que os principais líderes do mundo estão de costas para essa situação”, aponta.
Edição: Aline Scátola