Ameaça de despejo

Parlamentares visitam acampamento em Campo do Meio e comprovam produção agrícola

Audiência reuniu 4 deputados federais, além de 2 deputados estaduais, vereadores, universidades e outros apoiadores

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Agricultores correm risco de serem despejadas e perder o trabalho de 20 anos
Agricultores correm risco de serem despejadas e perder o trabalho de 20 anos - Sonha Caldas

Uma audiência conjunta das Comissões de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e do Congresso Nacional foi realizada ontem (27) no Quilombo Campo Grande, acampamento de 20 anos que reúne 2000 pessoas em Campo do Meio (MG) e está em risco de sofrer um despejo. Estiveram presentes quatro deputados federais – Luiz Couto (PT-PB), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, João Daniel (PT-SE), Valmir Assunção (PT-BA) e Adelmo Leão (PT-MG). O deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de MG, Cristiano Silveira (PT), também esteve presente, com seu colega Rogério Correia (PT). A audiência teve também a presença do procurador do Ministério Público de MG, Afonso Henrique.

O evento foi precedido de uma vistoria nos 11 acampamentos que compõem a área. Os parlamentares fizeram o mesmo percurso realizado pelo juiz Walter Zwicker Esbaille Júnior, que decretou a ordem de despejo afirmando que havia poucas pessoas na área, sem produção significativa. Não foi o que os parlamentares observaram: abundância de frutas, pés de café de mais de 10 anos e outras roças deram o tom da visita. Representantes da Unifal, que também estiveram presentes, fizeram um levantamento comprovando a existência no local de 418 casas de alvenaria, 1.200 cabeças de gado, 1000 porcos, 102.610 árvores e 20 mil galinhas.

Diante de um público de 500 pessoas, entre moradores da área e apoiadores de várias cidades da região, as autoridades presentes relataram o que viram na visita e se comprometeram em apoiar a permanência das famílias na terra. A presidenta da CUT-MG e deputada estadual eleita Beatriz Cerqueira fez um convite a quem duvida da produtividade na área depois da chegada do MST: “Tem gente que tem medo de povo. Desafio cada deputado a pisar os pés neste terra. A elite acha que pode falar por nós, mas quem fala por nós é o povo que planta neste chão”.

A audiência foi finalizada com um ato ecumênico coordenado pelo Frei Gilvander, da CPT: “Deus fez a terra, as águas e o ar para os homens. Mas Deus não fez as cercas, e nem deu escritura para ninguém. Assim como Jesus gostava de curar as pessoas, vocês também curam produzindo alimento saudável sem venenos. Por isso, continuar esta luta é uma necessidade espiritual”.

Entenda o caso

A Usina Ariadnópolis, em Campo do Meio, foi à falência em 1996 deixando uma dívida de mais de R$ 300 milhões com o estado e com trabalhadores. Em 1998 o MST ocupou a área junto com diversos ex-trabalhadores. Hoje, o local agrega 450 famílias, e na última safra foram produzidas 8,5 mil sacas de café, 55 mil sacas de milho e 500 toneladas de feijão. Já estão plantadas 1,7 milhão de pés de diversas culturas e mudas, e para 2019 a expectativa é plantar mais 1,3 milhão, totalizando 3 milhões de mudas e pés.

No dia 7 de novembro, uma liminar de despejo foi aprovada pelo juiz Walter Zwicker Esbaille Júnior a pedido do suposto dono da Usina, Jovane de Souza Moreira. A área estaria arrendada pelo maior produtor de café do mundo, João Faria da Silva, que comercializa grãos para as maiores marcas internacionais.

Edição: Sonha Caldas