A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores, senadora Gleisi Hoffmann, concedeu entrevista coletiva na sede do PT no início da tarde desta terça-feira (30), em São Paulo, após reunião da Executiva do partido em que foram definidas as linhas de atuação da sigla após as eleições presidenciais.
Gleisi ressaltou que a eleição presidencial vencida por Jair Bolsonaro (PSL) foi um processo "eivado de vícios e fraudes", como, por exemplo, a disseminação em massa de notícias falsas por meio das redes sociais, a ausência do candidato da extrema direita nos debates e os graves episódios de violência política observados ao longo da corrida eleitoral, que deformaram o processo democrático.
"É importante lembrar que 90 milhões de brasileiros não deram seu voto às propostas de Bolsonaro, seja porque votaram em nós, ou em branco, ou se abstiveram. Ele é uma escolha de apenas 39% dos eleitores", ressaltou a dirigente.
O partido deve, neste momento, voltar-se às votações que podem ocorrer no Congresso entre agora e dezembro, ainda no governo de Michel Temer (MDB), como a reforma da Previdência. Parlamentares que apoiam Bolsonaro também articulam as votações de mudanças no estatuto do desarmamento e do projeto Escola Sem Partido, também antes da posse do novo governo.
"A primeira resistência que temos de fazer é à aliança Bolsonaro e Temer, e é a primeira tarefa será resistir e enfrentar a reforma da previdência. Não foi debatida com a população, nem por Temer nem por Bolsonaro, e portanto é uma proposta que não tem apoio popular. Não foi testada no debate e não está no programa de governo do candidato que ganhou", ressaltou Gleisi, que enumerou ainda a possibilidade de que os congressistas votem novas mudanças no regime de exploração do pré-sal e na lei antiterrorismo, com o objetivo de mirar os movimentos populares, sobretudo no campo.
"[Os movimentos ocorrendo no Congresso significam] uma tragédia para os movimentos populares e para as liberdades. Essa é a tônica desse governo que vai se instalar em Brasília", lamentou.
"A segunda resistência imediata [que teremos de fazer] diz respeito à integridade física das pessoas, pelos posicionamentos que tem o governo que foi eleito em relação a uma série de movimentos. Portanto, vamos organizar e ampliar depois uma rede democrática de proteção solidária chamada 'Você Não Está Só'. Vamos mobilizar todos os advogados do partido, todos que militam pelos direitos humanos, os juízes pela democracia, para ter uma resposta pronta para denunciar casos de violação dos direitos humanos e dos direitos civis, a liberdade de manifestação e expressão, e também à educação, porque nos preocupa muito a intervenção sem precedentes nas nossas universidades, ou seja, um lugar para denunciar e buscar ajuda", afirmou a dirigente.
Gleisi disse ainda que o partido deve sugerir às frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular que façam plenárias e debates com a população sobre as medidas do novo governo.
Por fim, a presidenta do partido reafirmou por diversas vezes durante a coletiva que a campanha pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue sendo uma das principais campanhas públicas do partido, inclusive internacionalmente. "Nós tememos inclusive pela vida do presidente. Lula tem direito a um julgamento justo, ninguém pode definir o que fazer com ele sem que ele seja processado de forma justa. Lula é inocente e tem esse direito. Faremos pedido de proteção maior a sua vida e a sua integridade."
O objetivo do PT é criar um observatório internacional para garantir os direitos não apenas de Lula, mas das diferentes populações que estão sendo ameaçadas pelo novo governo: "Que o mundo olhe para o Brasil e pela nossa população indígena, negra, de indígenas, LGBT", finalizou.
Edição: Diego Sartorato