"Nenhum grupo religioso é compatível com o fascismo". Quem faz o alerta é o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, em entrevista à Rádio Brasil de Fato neste sábado (27). Ele tem 69 anos, é Doutor Honoris Causa pela Universidade São Judas Tadeu (2004) e pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e foi o ganhador do Prêmio Nacional de Direitos Humanos em 2004.
O sacerdote acusa os integrantes da campanha de Jair Bolsonaro (PSL) de serem "falsos profetas". Lancelotti afirma que é tarefa de todas as vertentes religiosas -- das religiões de matrizes africanas às espíritas -- defender a humanização da vida.
"O que eles estão usando é uma idolatria. É usar o nome de Deus em vão. Biblicamente, Deus não é autoritário, não é um fascista e que destrói a vida. Pelo contrário, é o Deus que protege a vida. Alguém pode imaginar Jesus condenando alguém à pena de morte? Alguém pode imaginar Jesus torturando alguém?", questiona o religioso. "Jesus sempre esteve ao lado das minorias, dos pequenos e dos indefensáveis", ressalta.
Segundo Lancelotti, o discurso discriminatório de Bolsonaro já encontra espaço nas ruas e tem sido usado para autorizar e legitimar atos de violência. "Eu tenho ouvido diariamente de policiais militares e de guardas civis metropolitanos, junto com moradores de ruas, que a partir de janeiro 'é bala na cabeça'", relata.
"Ainda bem que existem policiais antifascistas, mas já tem um grupo que está se sentindo liberado para qualquer tipo de arbitrariedade", reforça o padre.
No ano passado, Lancelotti foi processado pelo candidato de extrema direita, a quem chamou de "machista, homofóbico e racista".
Bolsonaro enfrenta Fernando Haddad (PT) no segundo turno das eleições presidenciais neste domingo (28).
Edição: Daniel Giovanaz