Com 58 anos, quatro filhos e um neto, Jaime Amorim é integrante da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e representante da América do Sul na Coordenação Internacional da Via Campesina.
O início de sua militância começou em 1979, quando ingressou em uma comunidade eclesial de base e passou a integrar a Pastoral da Juventude em Guaramirim (SC). Se formou em Pedagogia e sem abandonar o trabalho na roça, passou a integrar a Comissão Pastoral da Terra. Em 1985, participou do primeiro Congresso do MST.
“Eu fui ministro da eucaristia, ministro da palavra. Fui também catequista. Minha base política, familiar, de trabalho, foi formada nessa comunidade. Eu fui coordenador da Pastoral da Terra em Joinville. Continuava a trabalhar na roça, mas tinha essa tarefa. Com o Congresso [do Movimento], a gente assumiu a tarefa de construir o MST no norte de Santa Catarina”, relembra.
Em meados de 87, deixa o sul do país com a tarefa de construir o MST no nordeste do Brasil, passando por diversos estados: Bahia, Alagoas, Sergipe, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. A partir de 1992, se fixa em Pernambuco, estado no qual a primeira ocupação do movimento ocorreu em 1989, com a participação de Amorim.
Além de denunciar a situação do país - como a volta da fome e da pobreza -, a greve de fome da qual participa o líder sem terra tem como um de seus pontos a liberdade de Luiz Inácio Lula da Silva. A disposição de Amorim em aderir ao protesto não significa um abandono de uma análise crítica dos governos petistas.
Nos anos 2000, Amorim escreveu “Da Esperança à Frustração” como parte de uma pós-graduação na Universidade Federal de Juiz de Fora. Nela, expõe os limites da atuação petista, apontando como os governos “neodesenvolvimentistas”, marcados pela inclusão social e melhoria das condições de vida, não foram acompanhados de organização popular e disputa das consciências.
Agora, Amorim pensa que é possível ir da frustração a uma nova esperança, ou seja, que um próximo governo de Lula - enquanto “instituição e aquilo que representa para o povo brasileiro” - possa enfrentar as razões estruturais de nossa sociedade.
“Nós sofremos um processo de frustração, sofremos o golpe [de 2016] e passamos a reconhecer que parte daquela política era importante para os trabalhadores e agora é a nova esperança, que ele possa revogar tudo que foi feito durante o golpe e fazer tudo aquilo que não foi feito”, defende.
É essa esperança renovada que embasa a opção e desprendimento de Amorim em aderir à greve de fome por Justiça no STF.
“Quem tá na militância pode dizer: não temos muito tempo para ter medo. Do ponto de vista pessoal, estou muito seguro. Se for preciso, a gente coloca a vida em disposição. Se eu não voltar, não tem problema. A gente cumpriu uma tarefa. Quem tá na militância pode dizer: não temos muito tempo para ter medo”, diz.
Nesta terça-feira (7), o protesto entra em seu oitavo dia.
Edição: Juca Guimarães