Luiz Gonzaga da Silva, integrante da Central de Movimentos Populares (CMP) é um dos seis integrantes da “Greve de Fome por Justiça no STF”. Além de denunciar a situação brasileira, marcada pela volta do desemprego e da fome, a iniciativa pede também que o Supremo Tribunal Federal reverta a decisão que abriu possibilidade de prisão após condenação em segunda instância.
A mudança reivindicada encerraria a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, considerada pelos grevistas como de caráter político. Prisões políticas são um fato presente na trajetória de Silva, conhecido como Gegê. Nascido no interior da Paraíba em 1949, conheceu a repressão ainda pequeno.
“Eu comecei a militância muito jovem, muito menino. Quando eu tinha entre 13 e 14 anos, eu estava chegando em casa e a polícia prendendo meu pai. A partir daquele dia me juntei à luta. Meu pai era filiado ao sindicato dos trabalhadores rurais na cidade de Catolé do Rocha. Sou filho de camponês e camponesa”, diz Gegê.
Ainda na Paraíba, Silva militou em organizações clandestinas de resistência à Ditadura Militar. Em 1969, foi preso duas vezes. Em 1974, deixa sua terra natal e vai para São Paulo. É na capital paulista que se integra ao movimento popular urbano, reivindicando moradia digna na região central da cidade, aproximando habitação do local de trabalho.
“Chegando em São Paulo, nós fomos morar no fundão da zona leste, um lugar que só tinha três casas. Eu morei menos de um mês ali. Aí fui morar e trabalhar em uma empresa da construção civil na Vila Olímpia. Eu vi a primeira favela de São Paulo ser queimada. Eu passei a ter o entendimento de que era um fogo criminoso. No outro dia, transferiram todo aquele povo no bairro do Morumbi, onde se tornou aquela grande favela que é Paraisópolis. Eu não fui. Fui morar em cortiço. A partir dali, comecei a me meter na luta da moradia digna no centro da cidade de São Paulo”, rememora o militante.
Já nos anos 2000, Gegê foi alvo de um novo processo judicial. Por conta de sua posição contrária ao tráfico de drogas em um acampamento do movimento, foi acusado de ser o mandante de um homicídio dentro do local. Chegou a ser preso provisoriamente e se refugiu fora do Brasil. Ao final do processo, o próprio Ministério Público reconheceu que as acusações eram infundadas e baseadas no testemunho de pessoas ligadas ao tráfico expulsas do acampamento por Silva.
Como ex-preso político em mais de uma ocasião, como migrante nordestino, Gegê vê no processo contra Lula a mesma perseguição sofrida por tantos outros militantes.
“Eu presenciei muita gente passar fome. Vi cenas dificílimas. Ver alguém desmaiando de fome. Uma mulher dando os peitos para a criança se enganar, porque não tinha o que sair dos peitos. Por isso no nordeste, para quem não se alimentava e começou a comer três vezes por dia, há o respeito que o pessoal tem pela pessoa de Luiz Inácio Lula da Silva. Lula está sendo um preso político. Não tenho dúvida. Não estão prendendo [apenas] Lula, estão prendendo a classe trabalhadora, todos nós que lutamos por direitos”, defende.
Nesta segunda-feira (6), o protesto entre em seu sétimo dia. Nascido em dez de agosto, e prevendo uma longa duração para a greve de fome da qual participa, Gegê deve fazer aniversário durante a manifestação.
Edição: Juca Guimarães