Com 31 anos, Rafaela da Silva Alves é a mais jovem dos militantes a entrar em greve de fome "por Justiça no STF". É também uma das duas mulheres no grupo de seis – a outra é Zonalia Ferreira.
Pedagoga e atriz, Alves prefere dizer que é camponesa. Ela tem quase vinte anos de militância, pelo menos sete anos deles na organização dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), onde integra a direção nacional.
“Eu nasci em Sergipe, em um município chamado Poço Redondo, em uma comunidade chamada Maranduba, onde eu vivo até hoje. Meu pai é pernambucano e minha mãe alagoana, mas se encontraram em Sergipe. Quando eu tinha 12 ou 13 anos, a gente começou a fazer um trabalho ligado à igreja, na perspectiva da Teologia da Libertação. Um trabalho de organização de grupos de jovens. Nesse trabalho, a gente construiu um grupo de teatro chamado Raízes Nordestinas. Esse grupo existe até hoje. Foi por esse grupo que a gente conheceu o MPA. Nossa arte sempre foi muito política, com o compromisso de refletir a realidade”, relembra.
A conjuntura nordestina é uma das razões que leva Alves à greve de fome. Em sua região, Alves afirma que por volta de 1.500 famílias foram cortadas do Bolsa Família em uma situação em que a seca prejudicou a produção agrícola da região. Combinada a tudo isso, a interrupção de políticas para o semiárido como a construção de cisternas e bancos de sementes, após o golpe de 2016.
“Hoje a gente já vê um número muito grande de pessoas batendo nas portas, passando e pedindo alimento. Eu via isso há muitos anos. O número de pessoas pedindo esmolas na feira. Nosso povo cada vez mais desesperado porque já não tem como comprar alimento, não tem renda. O alimento e a água que tem armazenado em nossa região vai dar para apenas mais dois meses. Fico pensando como vai ser depois desses dois meses”, diz.
Por conta da situação do sertão nordestino – e do resto do Brasil –, Alves entende que a entrega à política hoje exige “um sacrifício ainda maior”.
“O presente e o futuro das nossas gerações está muito ameaçado neste momento. Não nos resta outro caminho senão lutar. A nossa juventude está em meio a este cenário. A juventude continua tendo um papel fundamental nos processos de transformação. Eu tenho uma tarefa como jovem, mulher, nordestina, sertaneja e camponesa. Eu quero dar minha contribuição para mudar esses rumos”, finaliza.
Esta quinta-feira (2) é o terceiro dia da greve de fome, que pede que denuncia a grave situação social do país e que o Supremo Tribunal reveja seu entendimento sobre a possibilidade de prisão em segunda instância.
Edição: Diego Sartorato