A Caravana do Semiárido Contra a Fome, com 102 pessoas, já percorreu mais de 3 mil km para debater a volta da extrema pobreza e da insegurança alimentar no Brasil.
A caravana partiu de Caetés, no agreste pernambucano, dia 27 de julho e passou por Feira de Santana (BA), Belo Horizonte (MG), Guararema (SP), e Curitiba (PR).
Em Caetés, pequena cidade conhecida por ser a terra natal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ato que marcou o início da caravana reuniu mais de cinco mil pessoas em praça pública.
Uma dessas pessoas era Uedislaine de Santana, moradora da comunidade quilombola de Atoleiro, na zona rural de Caetés, que elogiou as políticas públicas de convivência com o semiárido realizadas nos governos de Lula e Dilma, como o programa um milhão de cisternas que permitiu acesso à água para muitas famílias do sertão e do agreste.
“A gente já começou a sentir os impactos, principalmente da fome. Era raro [antes do golpe de 2016] ver pessoas na rua pedindo comida e agora já tem, não tanto quanto tinha antes, mas já tem pessoas passando nas casas pedindo e isso pessoas da região, pessoas que a gente conhece”, afirma.
Durante a viagem, a caravana parou nas cidades para distribuir panfletos e conversar com a população nas ruas para alertar da volta de 11,8 milhões de brasileiros para a extrema pobreza.
Atos em locais públicos também foram realizados para falar sobre a possível volta do Brasil ao mapa da fome, elaborado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). O Brasil saiu do mapa apenas em 2014.
Os dados analisados apontam que entre 2002 e 2013 caiu em 82% o número de brasileiros em situação de subalimentação. A FAO avalia que ações de apoio à agricultura familiar e políticas como o programa Bolsa Família contribuíram para a saída do Brasil do mapa da fome.
Para denunciar os cortes nas políticas públicas que permitiram a saída do mapa da fome, os jovens e idosos do semiárido nordestino percorrem quatro regiões do país.
Eles não desanimam com as longas horas de viagem. Antes desconhecidos, não demoraram para se reconhecer uns nos outros, como conta Ednaldo Sousa da Cruz, morador do assentamento da reforma agrária 25 de Maio no município de Madalena, Ceará
“Ao longo da caminhada, a gente vê cada história, cada rosto, cada realidade. Cada um tem uma realidade de sofrimentos passados com a seca, a fome e que hoje está na estrada para lutar para que essa realidade não volte a acontecer no nosso país. São pessoas de realidade diferentes, de todos os estados do nordeste, um povo batalhador, da luta, de vários movimentos sociais”, diz.
A caravana Semiárido Contra a Fome também denuncia a prisão política do ex-presidente Lula, que segue preso em Curitiba (PR). Diariamente os viajantes davam “bom dia” e “boa noite” ao ex-presidente, treinando para a chegada na vigília “Lula Livre”, onde desembarcaram na noite de quarta-feira.
O jovem pernambucano Romildo Albuquerque está na caravana desde Caetés (PE) e conta o que significa estar na vigília.
“Isso aqui é uma luta de resistência, para dizer que Lula não está só. Dar o “bom dia”, dizer "companheiro, a gente está do seu lado, estamos juntos". Vamos subir morro, descer favela, entrar nas áreas da burguesia e dizer que Lula será presidente e que nossos sonhos jamais serão aprisionados, muito menos aqui em Curitiba (PR)”, comenta.
Organizada por movimentos populares e pela ASA (Articulação Semiárido Brasileiro), a caravana segue para Brasília (DF). Na capital federal, o grupo participa de atividades na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos no Brasil) e também encontra os militantes que estão em greve de fome pela liberdade de Lula desde o dia 31 de julho.
Edição: Guilherme Henrique