Moradores da periferia de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, há meses lutam contra o projeto do governo do Estado de ampliação do Centro de Disposição de Resíduos (CDR) Pedreira, que recebe lixo de nove cidades da região, incluindo a capital.
A população alega que, com a obra, o aterro sanitário ficará próximo a residências de nove bairros da região do Cabuçu — em alguns casos, a distância pode chegar a cem metros, relataram os moradores.
O projeto também é criticado por ambientalistas, já que o terreno adquirido pela empresa Veolia, que opera o aterro sanitário desde 2016, está localizado na Área de Proteção Ambiental (APA) Cabuçu, perto do parque estadual da Cantareira.
A costureira Ana Paula Ferreira da Silva, de 33 anos, é moradora do bairro Jardim dos Cardosos, que fica a dois quilômetros da futura área do aterro. Ela mora há mais de dez anos no local, onde se divide entre o trabalho e o cuidado do filho de sete anos, e tem participado dos protestos contra a obra.
Ela afirma que os moradores do bairro já foram impactados com as obras do Rodoanel Mário Covas, que trouxe pó, lama e aumento de animais silvestres, como cobras, nas residências.
"Será mais uma obra que vai vir e a população já está ferida com isso. É um descaso muito grande. Eles falam que não haverá desapropriações, mas tem casas grudadas, parede com parede ao aterro sanitário. E isso é preocupante. Por que quem quer morar em um aterro sanitário, praticamente?", questiona a moradora.
A mobilidade é outra preocupação, já que a única via de acesso, a estrada do Cabuçu, pode ser sobrecarregada com o aumento do fluxo de caminhões no local.
"Na estrada do Cabuçu, não temos calçada, farol, não tem faixa de sinalização nenhuma, ela é muito curva e estreita. Então, hoje a gente já tem uma grande dificuldade. Os moradores aqui do bairro já não têm uma via de acesso boa e acessível. Imagina se a gente tiver que ficar disputando essa estrada com 800 caminhões diários? Vai ser um transtorno imenso aqui para nós", disse a moradora.
O aumento da concentração de urubus também é um dos fatores que preocupa tanto os moradores, quanto o Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam). Segundo o órgão, com a ampliação, o aterro estará a menos de 5 km do cone de aproximação das aeronaves do Aeroporto Internacional de Cumbica. No local, cerca de 800 voos decolam e aterrissam diariamente.
Falta de diálogo
Uma audiência do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) sobre a ampliação do CDR Pedreira seria realizada nesta segunda-feira (25) na Câmara Municipal de Guarulhos, mas foi suspensa por uma determinação judicial. A consulta pública foi cancelada por falta de Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros.
O padre Pedro Nacélio tem auxiliado os moradores na tentativa de diálogo com as autoridades. Segundo ele, mesmo com passeatas e abaixo-assinado, não houve nenhum encaminhamento sobre as reclamações dos moradores.
"Nós entendemos que há um silêncio por parte do poder público — que não se manifesta que sim, eles são a favor desse projeto desse novo aterro. Não usamos a palavra ampliação, que não é válida para isso que querem fazer conosco. Para nós, isso é um novo aterro", ponderou o padre.
Mesmo estando em área de proteção ambiental, a área foi estabelecida como uma Zona Especial de Extração Mineral e de Deposição de Resíduos Sólidos (ZEMR) em 2007, durante a formulação do zoneamento do município.
Outro lado
A Secretaria do Meio Ambiente informou que o processo de ampliação do CDR Pedreira está em processo de análise pela equipe técnica da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e que "todas as interferências e contribuições serão consideradas na análise". A pasta afirmou que o Conselho Gestor da APA Cabuçu também será consultado.
A Prefeitura de Guarulhos informou que o licenciamento é de responsabilidade do governo do Estado e, "mesmo não sendo responsável pela aprovação", que recebeu uma comissão de moradores no mês passado para explicar a situação da obra.
Já a empresa Veolia, que foi contatada por telefone e e-mail, não respondeu aos questionamentos da reportagem até o fim da publicação.
Em funcionamento há 15 anos, o CDR Pedreira é um dos maiores aterros sanitários da América Latina e recebe cerca de 5,8 mil toneladas de resíduos domiciliares e industriais por dia. O local recebe descartes das cidades de Arujá, Atibaia, Itaquaquecetuba, Mairiporã, Nazaré Paulista, Piracaia, Poá, São Paulo e Suzano.
Edição: Juca Guimarães