O embaixador da ONU para os direitos humanos e questões raciais, o ator estadunidense Danny Glover, esteve na Rocinha, no Rio de Janeiro, neste domingo (27). A atividade foi organizada pela Comissão Popular da Verdade.
Horas antes da visita, um tiroteio mexeu com a rotina dos moradores, uma pessoa morreu em decorrência da violência.
Ao Brasil de Fato, Glover disse que a morte reforçou a necessidade de que ele fosse à comunidade. O embaixador está no Rio para colher depoimentos sobre as violações dos direitos humanos ocorridas durante o período da Intervenção Militar federal.
"É de quebrar o coração a morte de um jovem e de qualquer ser humano. Por isso, eu sabia que eu tinha que vir aqui hoje, apesar do tiroteio. Eu tinha que estar aqui hoje para estar com as pessoas, para ouvir suas histórias e a expressão de suas dores. Eu sabia que era um motivo importante", afirmou.
Durante o ato, que teve a participação de representantes de diversos movimentos populares, Glover afirmou que a humanidade passa por seu momento mais crítico, com a proliferação de armas que matam inocentes. Ele também criticou o modelo econômico que amplia a pobreza em todo o mundo.
"Essa é uma visão equivocada, porque também estamos em um momento muito crítico para a humanidade. Os que estão lá embaixo estão cada vez mais pobres e os que estão no alto cada vez mais ricos. O Brasil é a sexta maior economia do mundo, mas tem uma população marginalizada comparada a toda a riqueza que tem. É esse o modelo que nós queremos para as comunidades e para o mundo?", questionou o embaixador da ONU.
Integrante da Comissão Popular da Verdade, Luma Vitorio lembrou que a iniciativa de investigar as ações da intervenção nas favelas surgiu a partir da frase do general Eduardo Villas Bôas.
Em fevereiro, o comandante do Exército disse que militares precisavam de "garantia para agir sem o risco de surgir uma nova Comissão da Verdade", em referência em comissão que investigou casos de tortura e morte durante o período da ditadura militar.
Ela explicou que a comissão tem três pilares: mobilização social, denúncia das violações e apoio jurídico para quem relata os crimes nas favelas. Luma reiterou que a política de combate não é a solução, porque mata moradores e policiais que vivem nas periferias.
"A política de combate mata tanto moradores das favelas como policiais moradores das periferias. É uma guerra em que só eles ganham. Ganham com as mortes, com os Amarildos que somem, ganham com as Claudias que são arrastadas e com todo o sangue que corre nas periferias", disse, em referência às vítimas que morreram em confrontos.
Moradora da Rocinha, membro do Coletivo de Favelas e da CPV, Shirley Muriel fez um desafio ao poder público para que a comunidade receba investimentos em infraestrutura. "Nós, como Comissão Popular da Verdade, queremos intervenção na educação, no saneamento, na saúde, na moradia, na cultura... A gente quer o melhor para o nosso povo", reivindicou.
Edição: Katarine Flor