Manifestantes lotaram nesta segunda-feira (14) as escadarias da Câmara do Rio e a praça da Cinelândia para lembrar os dois meses do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. Durante o ato, parlamentares e representantes de movimentos sociais cobraram das autoridades a solução para o crime.
Amiga de Marielle e também defensora dos direitos humanos a vereadora de Niterói Talíria Petrone (PSOL) lembrou que a parlamentar do Complexo da Maré, que foi em 2016 a segunda mulher mais votada para o cargo de vereadora em todo o país, encampava a luta feminista, LGBT, negra e denunciava a desigualdade social do país.
"Tentaram silenciar uma voz que dava prioridade no seu discurso, mas também no seu corpo, àqueles e àquelas marginalizados por um Brasil que não aboliu ainda a escravidão, que não aboliu uma lógica colonial que nos mata e mata filhos de mulheres como Marielle, de mulheres como nós. Num Brasil em que a cada 100 mortos, 71 tem a cor da Marielle. E isso não pode mais ser secundário na política", defendeu Talíria Petrone.
Para a ativista do Movimento Negro Unificado (MNU), Silvia Mendonça, as esquerdas precisam se apropriar das bandeiras de Marielle e ir em direção aos espaços das periferias com o objetivo de ampliar a consciência do povo. Silvia recordou a época em que conheceu Marielle, em 2014, quando as duas lutaram por justiça para a família de Claudia Silva Ferreira, morta na Zona Norte do Rio depois de ser arrastada por uma viatura da Polícia Militar por 300 metros.
"A gente tem que sair daqui agora e sempre para buscar essa unidade entre nós. Assim como essa burguesia e esse fascismo exercem essa unidade, a gente tem que ampliar a consciência do nosso povo que não está aqui, ir para os territórios, para as favelas e para os espaços onde nós não estamos conseguindo trazer quem não está aqui", clamou a representante do Movimento Negro Unificado.
Em entrevista ao Brasil de Fato, os deputados do PSOL Chico Alencar e Marcelo Freixo criticaram o processo de investigação e o vazamento de um depoimento até então sigiloso. O conteúdo incrimina o vereador Marcello Siciliano, do PHS, e o ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújo, apontados como mentores da execução de Marielle. Integrante da Comissão Externa da Câmara Federal que acompanha o caso, Chico apontou algumas falhas da investigação.
"O que nós queremos chamar a atenção é para o que nos parece falho na investigação até agora. O pouco cuidado com o carro da Marielle que ficou num pátio exposto, o fato de não terem feito no IML o raio-X necessário para ver a trajetória das balas nos corpos executados, o fato de as testemunhas oculares achadas pelo jornalismo investigativo não terem sido ouvidas de imediato ou até antes pelos investigadores, o fato de se fazer uma perícia, uma reconstituição do episódio só 56 dias depois", pontuou.
Já o deputado estadual Marcelo Freixo afirmou que o vazamento de depoimento não é compatível com a seriedade e complexidade do caso. O deputado criticou, ainda, o que chamou de oportunismo do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, que,segundo ele, deveria ter censurado a quebra do sigilo do caso, mas preferiu elogiar os desdobramentos das investigações após a notícia do vazamento.
"É muito grave ver vazamento de uma investigação complexa como essa. No primeiro momento, nós tivemos o vazamento e isso foi corrigido pela Polícia Civil, que fez com que os depoimentos não fossem mais online. Agora, tivemos um vazamento gravíssimo de uma fonte importante, de um depoimento dado à Polícia Federal e não sei com qual intenção. Mas, evidentemente, não é compatível com a seriedade e complexidade de um caso como esse. Sobre o ministro de Segurança, quando ele comemora a informação baseada em vazamento, é lastimável, é um oportunismo despropositado", criticou duramente o parlamentar do PSOL.
Durante o ato, foi estendida uma grande faixa branca na qual as pessoas presentes escreveram mensagens em memória de Marielle e Anderson e cobraram justiça.
Edição: Raquel Júnia