Intolerância

Dilma Rousseff denuncia escalada da violência política no Brasil

Junto com Celso Amorim, a ex-presidenta falou para imprensa internacional sobre a expansão do ódio após o golpe de 2016

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
"O Brasil passa por um momento de radicalização do golpe e aumentam os graus de violência que ele utiliza", alertou Dilma
"O Brasil passa por um momento de radicalização do golpe e aumentam os graus de violência que ele utiliza", alertou Dilma - Ricardo Stuckert

A ex-presidenta da República, Dilma Rousseff, e o ex chanceler do país, Celso Amorim, convocaram a imprensa internacional nesta segunda-feira (26), na cidade do Rio de Janeiro, para denunciar as agressões sofridas pela caravana que o ex-presidente Lula realiza, desde a semana passada, na região Sul do país. Dilma, que também mencionou o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), ressaltou que o crescimento da violência política é fruto do ódio disseminado a partir do processo de impeachment que cassou seu mandato.

“Com esse processo de expansão do ódio, de reprodução desse ódio em escala nacional, eles conseguiram um nível de intolerância muito grande, uma grande difusão de pequenos grupos de extrema direita. Isso explica o surgimento do Bolsonaro. Em qualquer lugar do mundo, não seria considerado civilizado uma pessoa defender aberta e frontalmente, a todo um parlamento e a um país, a tortura”, denunciou a ex-presidenta.

Segundo Dilma, esses grupos de extrema direita, com a conivência das forças de segurança pública, tentaram bloquear a passagem da caravana de Lula desde o seu início, no município gaúcho de Bagé, onde foram atirados paus, rojões e pedras que estilhaçaram uma das janelas do ônibus em que estava o ex-presidente. As agressões se repetiram nas cidades de Santa Maria, São Borja, Entre-Ijuís, Cruz Alta e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e também na cidade catarinense de Chapecó e no município paranaense de Francisco Beltrão.

Em diversos desses trechos, milicianos a cavalo usaram chicotes para agredir apoiadores da caravana, “assim como faziam as elites escravocratas”, afirmou Dilma. De acordo com os relatos da ex-presidenta, os opositores portavam também armas de fogo, facas, varas de bambu e correntes de ferro. Em Santa Maria, estudantes foram agredidos dentro da universidade federal. Em São Borja, dois militantes do PT ficaram feridos. Em Cruz Alta, quatro mulheres e uma criança de 10 anos foram agredidas a socos e pontapés.

Ovo da serpente

A ex-presidenta também denunciou a intervenção do Ministério Público Federal (MPF) na autonomia universitária. Os dirigentes da Unipampa, em Bagé, e da Universidade da Fronteira Sul, em Passo Fundo, foram oficiados pelo MPF com a ameaça de que seriam processados por improbidade administrativa caso Lula visitasse seus campi.

“O Brasil passa por um momento de radicalização do golpe. Todo golpe se radicaliza, todo golpe. E aumentam os graus de violência que ele utiliza para conter as consciências das pessoas”, concluiu Dilma.

O ex-chanceler do Brasil, Celso Amorim, destacou que o modelo de governo que está se instaurando no Brasil terá influência em todo o mundo e ressaltou a importância da imprensa internacional acompanhar este processo.

“Há uma coisa muito forte que é preciso dizer que são as tendencias do fascismo. Eu acho que é preciso alertar o mundo que aqui há um ovo da serpente. O fascismo se manifesta de muitas formas. E não estou nem dizendo que tudo seja coordenado. É possível até que, digamos, a casa grande que usa o açoite não queira um governo fascista. Não sei se quer ou se não quer. Ai é outra coisa, mas os fatos que estão acontecendo, a conjugação dos fatos é impressionante”, apontou. 

A caravana de Lula pela região Sul do Brasil se encerrará no dia 28 de março, quando está previsto um ato na Boca Maldita, centro de Curitiba (PR). 

Edição: Thalles Gomes