"Eu sou espírita, kardecista. A minha filha gosta mais de ir para a umbanda, e meu marido é católico. E todo mundo se dá bem casa. Todo mundo tem o direito de escolher o que quer e o com que se identifica", disse Alessandra Patrícia da Silva, que é integrante do coletivo Mães pela Diversidade.
Ela participa da Parada LGBT desde 2013, quando sua filha, de 20 anos, contou para a família que é lésbica. Alessandra auxiliou, pela primeira vez, um dos 19 trios elétricos da 21ª edição da Parada do Orgulho LGBT, realizada neste domingo (18), em São Paulo (SP).
Este ano, o evento trouxe como tema o respeito à diversidade religiosa e críticas ao fundamentalismo religioso e as intervenções da bancada evangélica no Congresso Nacional. A estimativa dos organizadores é de que três milhões de pessoas tenham participado do evento.
No carro à frente da marcha, a organização da Parada LGBT, que levou milhares à Avenida Paulista, reuniu líderes religiosos da Igreja Batista, de religiões de matriz africana e do judaísmo com o slogan "Independente de nossas crenças, nenhuma religião é lei. Todos e todas por um estado laico".
Uma pesquisa feita na edição de 2016 pelo coletivo Vote LGBT, em parceria com pesquisadores da USP, Unifesp e Cebrap, revelou que quase metade do público do evento — que ocorre três dias após a Marcha para Jesus — é formada por cristãos: católicos, evangélicos e kardecistas somam 45,7% da Parada.
O líder do movimento Jesus Cura a Homofobia, Marco Oliveira, pediu perdão à comunidade LGBT "por todas as mazelas que a igreja evangélica fez durante todos esses anos". "Eu quero deixar bem claro que [Silas] Malafaia, [Marco] Feliciano e tantos outros não representam todos os evangélicos do Brasil que apoiam, sim, que toda forma de amor é abençoada por Deus", disse o pastor batista no carro de som.
Para a baiana Thaís Lima da Silva, o tema sobre a laicidade do Estado deste ano é importante. "Eu sou católica e acredito muito em Deus. Deus é maravilhoso com todos nós", disse. "O estado laico é a religião para todos", completou ela.
Thaís integra o programa municipal Transcidadania e apoia um projeto de prevenção às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e ao HIV para profissionais do sexo. Para ela, o evento é a celebração de um ano inteiro de militância: "A gente discute sobre preconceito, sobre emprego e saúde o ano inteiro. A gente tira um dia do ano para celebrar e mostrar para a sociedade que a gente existe".
Público
Jovens e adolescente, em busca das apresentações musicais de Daniela Mercury, Anitta e Pabllo Vittar, formam a maioria do público da Parada LGBT. Mas, além dos shows e clima de micareta, muitos aproveitaram o momento para se pronunciar em defesa das eleições diretas para a Presidência e gritar pelo "Fora, Temer".
Cartaz pelas Diretas Já na Parada LGBT de 2017 | Foto: Rute Pina/ Brasil de Fato
Marcos Freire, coordenador do coletivo LGBT da Central Única dos Trabalhadores (CUT), pontua a importância dos movimentos populares participarem da marcha. Para ele, o dia não é apenas festa. "É um dia de comemorar nossa visibilidade e nossa existência, e mostrar que estamos em todas as áreas, inclusive no mercado de trabalho. Nosso papel é lutar por direitos, mas nosso trabalho é o ano inteiro, para que a gente possa diminuir a violência, a discriminação social contra a população LGBT", afirmou.
É o que também pontua Alessandra, do coletivo Mães pela Diversidade. "Às vezes as pessoas dizem que o evento é só o fervo, só a bagunça, mas eu acho que não. Toda essa visibilidade, as pessoas se expondo e se assumindo, colocando a cara para bater no sol é muito importante", disse. O coletivo dá apoio jurídico e psicológico a familiares de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis.
Edição: Vanessa Martina Silva