Os 150 indígenas que ocupavam há treze dias o prédio do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Litoral Sul, no Centro de Curitiba, decidiram deixar o local na manhã desta quarta-feira (7). A decisão foi motivada por um acordo entre os ocupantes e o ministro da Saúde, Ricardo Barros, que prometeu exonerar amanhã ao menos seis funcionários responsáveis pela gestão da unidade, a pedido dos manifestantes. O nome dos profissionais que devem deixar o cargo não foi confirmado pela pasta.
Os caciques apostam que as mudanças na coordenação do Distrito podem ajudar a resolver, por exemplo, problemas de saneamento básico nas comunidades, muitas delas localizadas ao lado de esgotos a céu aberto e rios com água contaminada. "Queremos uma saúde indígena de qualidade e que possa chegar a todos sem discriminação (...), mas a gestão está colocando seus interesses pessoais à frente da causa coletiva", resumiu em nota oficial o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Litoral Sul, Zico da Silva. "Somos a favor da exoneração imediata".
As mobilizações que começaram no dia 24 de novembro foram articuladas por lideranças de comunidades indígenas ligadas à Comissão Ywyrupa e à Articulação dos Povos Indígenas (Arpin) Sudeste. Segundo o cacique Aridju Xondaro, que se reuniu hoje com o ministro Ricardo Barros em Brasília, a exoneração dos gestores será publicada em Diário Oficial na manhã desta quinta-feira (8). A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde (MS) não confirma essa informação, justamente porque ela terá caráter oficial somente a partir de amanhã — a exemplo do que foi sinalizado pelo cacique. "Agora, se ele [Ricardo Barros] não exonerar, amanhã faremos uma ocupação em massa", garante Xondaro.
Comunidades indígenas não vão participar da indicação dos novos gestores, mas pretendem cobrar soluções. (Giorgia Prates)
Seis anos de insatisfação
Em entrevista ao Brasil de Fato na semana passada, a liderança indígena Tupã Rendy disse que a precariedade do atual cenário se deve em grande medida à transferência da gerência da atenção à saúde indígena da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para a chamada Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), em outubro de 2010. "Desde o tempo que a Sesai assumiu, não fizeram nada nas comunidades. É um descaso", desabafou.
Além dos problemas de saneamento, os indígenas questionam a retirada de dezenas de automóveis que, até 2010, serviam para levar pacientes para consultas e emergências médicas. Nos poucos veículos que continuam disponíveis para uso da comunidade, falta combustível.
Responsabilidade do Ministério
A ocupação do DSEI Litoral Sul terminou pacificamente após treze dias de mobilizações que envolveram centenas de indígenas de aldeias de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. A unidade faz parte dos 34 Distritos ligados à Sesai, subordinada ao Ministério da Saúde.
Embora admita certa expectativa sobre o perfil dos novos gestores, o cacique Aridju Xondaro disse que as comunidades não indicaram nenhum nome nem vão participar do processo de nomeação. "Nós somos indígenas, não temos que indicar ninguém. A responsabilidade é toda do gabinete do ministro", completa.
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