A população da região metropolitana de São Paulo que diariamente utiliza o metrô o considera o melhor, mais rápido e mais limpo meio de transporte público disponível. Porém, seus trens são superlotados nos horários de pico e sua tarifa, cara, e poderá encarecer ainda mais caso a empresa seja privatizada, como está nos planos do governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Os dados são da pesquisa "O metrô segundo seus usuários: percepções e demandas", realizada pelo Instituto Locomotiva, divulgada nesta quarta-feira. Foram ouvidas 813 pessoas em todas as linhas do metrô paulista entre os dias 6 e 12 de agosto. Atualmente, cerca de 4 milhões de passageiros utilizam os serviços.
A pesquisa foi encomendada pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo, que lançou hoje o Movimento Mais Transporte. Com apoio de sindicatos, centrais e entidades de movimentos sociais, pretende ampliar o debate e a defesa do transporte público contra o processo de sucateamento.
De acordo com o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles (ex-Data Popular), a pesquisa aborda a situação do metrô na perspectiva do usuário. "Atrás de cada gráfico, de cada número, tem a história de pessoas, de cidadãos, que utilizam o transporte público para trabalhar, estudar, procurar emprego. É o retrato de quem anda de metrô e também de outros modais, como os ônibus urbanos e da EMTU e os trens da CPTM".
Segundo a pesquisa, o metrô lidera a preferência dos usuários. A avaliação positiva (notas 8, 9 e 10) foram dadas por 53% dos entrevistados. Os ônibus urbanos obtiveram as mesmas notas por apenas 21% dos usuários, a CPTM, de 16%, e os da EMTU, de apenas 15%. Sua rapidez é a qualidade que mais atrai usuários. "Há dados de que a maioria deles, se pudesse, só andaria de metrô, o que aponta para a necessidade de aumento da oferta", completou.
No entanto, os usuários apontaram que há muito em que melhorar, especialmente o valor das tarifas e a superlotação dos trens, mais grave nos horários de pico. Para eles, tais problemas poderiam ser sanados com a conclusão das estações em obras, com mais trens em circulação e redução do preço da passagem, que limita o direito de ir e vir e requer subsídios do governo, que deveria priorizar o sistema – conforme defendem 87% dos usuários ouvidos.
A ampla maioria dos usuários ouvidos (87%) acredita que o sistema deveria ter mais estações e considera grave a existência de atrasos nas linhas em construção. Apenas 12% avaliam como adequada a quantidade de linhas e estações. E para 98%, é grave haver atrasos nas obras. "No entanto, apenas um terço dos entrevistados associou os problemas no metrô a escândalos e irregularidades em contratos com fornecedores, como os do chamado cartel", ressaltou Meirelles.
Eles defendem ainda que a companhia deveria ter mais funcionários. E para 70% dos ouvidos, esses trabalhadores deveriam ser mais valorizados, trazendo assim melhoria no atendimento às necessidades dos passageiros.
"Outro dado é o posicionamento contrário à privatização do serviço por dois terços dos usuários entrevistados, não por razões ideológicas, mas econômicas. Eles acreditam que, com a privatização, haveria pressão de empresários por tarifas mais caras", disse Meirelles.
O dado, segundo ele, é confirmado por outro relevante: 98% dos entrevistados consideram ser dever dos governos – e não de empresas ou ONGs – oferecer transporte público adequado para a população. Para 93% , o metrô deveria ser prioridade para os governos e 92% deles concordam que o serviço deve receber mais investimentos.
"A luta contra a privatização do metrô não pode ser uma luta corporativista, em defesa dos nossos empregos e salários. E essa pesquisa falou com gente, com seres humanos que precisam do metrô, e que querem mais metrô, público, estatal e de qualidade", disse o secretário-geral do Sindicato dos Metroviários, Alex Fernandes. "Além de ajudar a construir esse transporte reivindicado pela população, o sindicato tem a tarefa de trazê-la para a luta, para dentro do movimento em defesa do transporte público."
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