Despejo

"Percebi o risco de uma ação de violência grave e me deitei ali", disse Suplicy

Ex-senador tenta impedir reintegração de posse da ocupação na região da Rodovia Raposo Ravares, em São Paulo (SP)

São Paulo (SP) |
A oficial de justiça pediu que eu saísse e eu falei que não iria sair. Ela disse que eu seria levado, e eu afirmei que não colocaria qualquer resistência a isso"
A oficial de justiça pediu que eu saísse e eu falei que não iria sair. Ela disse que eu seria levado, e eu afirmei que não colocaria qualquer resistência a isso" - Reprodução/ Facebook

O ex-senador e candidato a vereador em São Paulo, Eduardo Suplicy (PT-SP), foi detido na manhã desta segunda-feira (25) após protestar contra violência policial na reintegração de posse da ocupação de um terreno na Cidade Educandário, na região da Rodovia Raposo Ravares, Zona Oeste de São Paulo.

Suplicy foi levado para a 75ª DP, onde prestou depoimento e foi liberado após três horas no local. 

Outros dois homens que participaram da manifestação também foram presos. Segundo Suplicy, até o momento em que foi liberado, os dois continuavam detidos.

"O delegado titular e o assistente da delegacia disseram que provavelmente serei chamado nos próximos dias para esclarecer inteiramente o ocorrido no juizado criminal", afirmou. Segundo o delegado Gilberto de Castro Ferreira, Suplicy assinou um termo circunstanciado e vai responder por desobediência.    

Em entrevista para o Brasil de Fato, ele contou que ouviu cerca de oito bombas de gás lacrimogênio ao chegar na ocupação, após ser chamado pelos representantes das 350 famílias que ocupam a área há alguns anos.

Os moradores do local se revoltaram após uma das bombas atingir uma criança e revidaram com pedras e rojões contra a Tropa de Choque.

"Eu vi uma senhora carregando um colchão porque teriam jogado uma bomba de gás lacrimogênio na residência dela e ela passou mal, subiu a pressão. Ela tem três crianças. Eu fiquei muito preocupado com as ações dessa natureza e vi que era importante evitar qualquer ação de violência", afirmou o ex-senador.

Suplicy disse que tentou conversar com o oficial de justiça e pediu para conversar com o juiz, mas, ao ver que a reintegração aconteceria, decidiu se deitar no chão, sendo acompanhado pelas moradoras da ocupação.

"Percebi o risco de acontecer uma ação de violência grave e me deitei ali. A oficial de justiça pediu que eu saísse e eu falei que não iria sair. Ela disse que eu seria levado, e eu afirmei que não colocaria qualquer resistência a isso. Cerca de seis policiais me levaram até a viatura, e depois até o 75 DP, onde conversaram respeitosamente comigo", continuou.

Segundo a Polícia Militar, o ex-senador foi acusado de desobediência à ordem dos oficiais e obstrução à Justiça.

Propriedade da prefeitura

O terreno desocupado pela Polícia Militar pertence à prefeitura de São Paulo que, em nota, destacou que o local é de "risco elevado", por ficar perto de um barranco. As famílias afirmaram que foram avisadas da reintegração, mas que não têm para onde ir.

“A Defesa Civil do município estudou a possibilidade de retirar apenas parte dos barracos, mas concluiu que isso colocaria os demais barracos em risco, por causa da fragilidade estrutural do conjunto. A reintegração de posse é uma determinação judicial e os moradores foram avisados previamente sobre a desocupação”, disse a nota da prefeitura.

Logo após ser liberado, Suplicy afirmou em sua página do Facebook que a truculência do governo Alckmin é "inaceitável". "Se fazem isso com um ex-senador da República, imagine o que sofre a população que tanto precisa de apoio".

Em nota, a Secretaria da Casa Civil afirmou que "lamenta que o ex-senador tenha aproveitado da fragilidade de famílias para tumultuar uma reintegração de posse em cumprimento a uma ordem judicial solicitada pela Prefeitura de São Paulo".

De acordo com a Prefeitura, os moradores já foram cadastrados para receberem o auxílio-aluguel, e uma equipe do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS) estava no local para encaminhar as pessoas aos serviços da rede socioassistencial.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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