Migração

III Copa de Integração dos Refugiados tem abertura neste sábado (4)

O evento reúne times de diferentes nacionalidades e tem o objetivo de desmistificar a questão do refúgio no Brasil

Redação |
O lançamento oficial da Copa será neste sábado (4), no Sesc Itaquera, zona leste da capital paulista
O lançamento oficial da Copa será neste sábado (4), no Sesc Itaquera, zona leste da capital paulista - Reprodução/Facebook

A 3ª edição da Copa de Integração dos Refugiados terá seu lançamento oficial neste sábado (4), das 11h às 15h, no Sesc Itaquera, zona leste da capital paulista. Os demais jogos estão marcados para os dias 10, 16 e 17 de julho. A entrada é gratuita em todos os jogos.

O evento, promovido pelos próprios refugiados desde 2014, conta com o apoio da Cáritas Arquidiocesana de SP, do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e das Secretarias do Transporte e dos Direitos Humanos.

A 1ª edição da Copa foi inspirada na Copa do Mundo no Brasil. A iniciativa contou com financiamento coletivo online e teve a participação de 16 times. A Nigéria levou o título, e Camarões, que ficou em 2º lugar na primeira edição, ganhou a Copa no ano seguinte. Neste ano, com o aumento no fluxo migratório de refugiados causado pela crise humanitária mundial, serão três dias de jogos e 26 times de nacionalidades distintas competindo, com o tema de "Refugiado, Espaço, Oportunidades".

Segundo os dados divulgados pela ACNUR em maio deste ano, o número de solicitações de refúgio no país entre 2010 e 2015 sofreu um aumento de 2.868%. Atualmente, são 8.863 refugiados reconhecidos no Brasil de 79 nacionalidades distintas, sendo que a maior parte deles são sírios, angolanos, colombianos e congoleses da República Democrática do Congo.

Autonomia

Para o jornalista Rodrigo Borges Delfim, criador do site Migramundo, que pauta as questões migratórias no Brasil e no Mundo, a importância do evento começa pelo fato de o torneio ser organizado pelos próprios refugiados.

"Embora haja outros apoios, é uma comissão de refugiados que toca todas as decisões referentes ao campeonato. Por si só, isso mostra a capacidade que essas pessoas possuem de se organizar e contribuir com outros refugiados, imigrantes e com a própria sociedade brasileira. E, como o futebol um esporte com ampla difusão, esse é um meio de dialogar com diferentes culturas e com o próprio Brasil", afirma.

A coordenadora da Cáritas, Maria Cristina Morelli, também destaca a importância do protagonismo dos refugiados na organização da Copa: "Da primeira edição para esta eles estão mais autônomos. Tudo que conseguiram foi por iniciativa deles, foram atrás de patrocínio, das camisetas, medalhas, campo e cobertura da mídia. Essa é a intenção da Copa também, que eles sejam protagonistas desse movimento".

A Cáritas entende que apesar de a proposta do evento não ter modificado diretamente a vida dos refugiados, ela contribui com um retorno desejável para o tema. "É um processo. O tema do refúgio e esse volume migratório ainda são muito novos para o Brasil e para São Paulo. Mas a gente tem notado pequenas iniciativas de pessoas que veem a Copa e querem ajudar com alguma doação especifica, ou que a partir da Copa cadastrou sua empresa nos projetos que a gente tem para garantir vagas de trabalho aos refugiados, por exemplo" avalia Maria Cristina.

Segundo Jean Katumba, um dos organizadores da Copa, há uma grande expectativa para essa edição. "Quando a prefeitura começou a ajudar, a gente ampliou o evento. Estamos esperando que no dia da final, em 17 de julho, junte muita gente", afirmou.

União entre povos

Katumba é congolês e se encontra refugiado no Brasil com a sua família há quatro anos. Ele destaca que o objetivo do evento é desmistificar os refugiados e criar uma fraternidade entre eles. "Na Copa você vê diferentes comunidades e países vivendo no Brasil. Queremos criar uma união entre os refugiados, mas também mostrar para o povo brasileiro quem somos nós, lutar contra a discriminação. As pessoas não sabem o que é refugiado, e nesse sentido a Copa traz uma mensagem. O Brasil é conhecido como o país do futebol, e por isso escolhemos também o caminho desse esporte para divulgar a luta contra preconceito", declara.

"No sábado, por exemplo, tinha um árbitro que estava apitando um jogo de refugiados sem saber o que somos. Só depois do jogo ele perguntou e nós ficamos surpresos. Pensamos, 'nossa, até mesmo a pessoa que apita o jogo não nos conhece'. Acham que refugiados fogem de países pobres para ganhar bolsas aqui, ou ficam pensando que todo preto é haitiano por exemplo. Haitiano não é xingamento, mas cada um tem sua nacionalidade também, merecemos uma identificação. Aí, dentro da Copa, nós estamos trabalhando também para mostrar que somos capazes, que estamos juntos para construir essa terra que nos acolheu. Mas o Brasil também tem que nos dar um pouco de respeito e consideração", confessou Katumba.

Para Maria Cristina, o aumento no número de países envolvidos na Copa gera expectativa para a desmistificação das nacionalidades dos refugiados. "Com um leque maior de países jogando, os brasileiros percebem que há conflitos e perseguição em países que não imaginavam. Quem não convive com refugiados todos os dias acha que eles só vêm da Síria ou da Nigéria, por conta do Boku Haram. Só ano passado a Cáritas recebeu 87 nacionalidades diferentes solicitando refúgio. Mais seleções trazem um questionamento maior", afirmou a coordenadora do Cáritas.

Delfim avalia que a expectativa para a terceira edição da Copa dos Refugiados está em "reforçar o empoderamento dessas pessoas". "O fato de a Copa chegar à 3ª edição mostra que a iniciativa conseguiu ir além do gancho trazido pela Copa de 2014 e pode se firmar como um evento anual. Se isso acontecer, será ótimo para a temática migratória brasileira e até mesmo internacional, servindo como um bom exemplo a ser adotado em outros locais", ressalta o jornalista.

Outras ações

No dia da final da Copa, além das disputas de primeiro e terceiro lugar, serão realizadas uma partida feminina e uma entre as crianças refugiadas. "As mulheres congolesas vão ensinar um jogo típico do país também. A ideia é que com o tempo se tenha outros esportes. Na primeira Copa foi bem interessante porque o pessoal de Bangladesh joga muito Cricket, então eles perderam e pediram pra tentar organizar uma copa desse esporte. Os refugiados também têm planos para fazer mais eventos culturais. Tem tanta coisa valorosa da cultura dos outros países que a gente não conhece", relatou Cristina. 

Delfim destaca ainda outras iniciativas positivas em torno da temática do refúgio: "A Copa dos Refugiados tem grande poder de penetração junto à sociedade e junto à mídia por envolver futebol. Mas também vale destacar os eventos promovidos pelo GRIST [Grupo de Refugiados e Imigrantes Sem Teto de São Paulo], as ações do Instituto Adus e os cursos de idiomas e de cultura promovidos pelo Abraço Cultural. Sem contar outras ações que incluem migrantes que não se encaixam na definição de refugiados", enumerou.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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