Imaginem que acusem você de ter cometido um assassinato, falsifiquem uma prova do crime e levem você a um julgamento. Todos os principais jornais, televisões e rádios lhe acusam. Você sabe que seus acusadores formam uma gangue de criminosos e que o maior deles comanda o processo de julgamento. O que você faria?
Um fato 200 milhões de vezes mais grave está acontecendo agora no Brasil! Nele, não é uma pessoa mas todo um povo que está sendo condenado por um crime que não cometeu. O impeachment da presidenta Dilma significa a cassação do direito mais importante conquistado pelo povo na democracia: o de eleger seu presidente e de ter respeitado os seus direitos. Ela está sendo acusado por um crime que não cometeu, com provas forjadas. Todas as empresas de televisões, rádios e jornais estão contra ela. Um bandido político – o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha - lidera a gangue dos julgadores. Dos 38 deputados que votaram a favor do impeachment na Comissão que deu o seu parecer favorável ao impeachment, 36 estão indiciados por corrupção. O que o povo brasileiro deve fazer?
Este golpe na democracia brasileira é mais grave do aquele cometido em 1964. Por quatro razões.
A Constituição de 1988 é mais democrática do que aquela de 1946, na qual não havia um princípio de soberania popular pleno (dezenas de milhões de analfabetos não votavam) nem pluralismo (os partidos de esquerda não podiam se organizar legalmente).
Agora, ao invés dos tanques dos militares, são as instituições da democracia brasileira – o Congresso Nacional, com a conivência de setores do Judiciário e da Procuradoria Geral da República – que estão armando o golpe. Isto desmoraliza a democracia.
Em terceiro lugar, agora não há uma cultura de guerra fria como havia em 1964. A interrupção do mandato de uma presidente democraticamente eleita por um bando de políticos corruptos desmoralizará o Brasil na comunidade democrática internacional. Será pior que o 7 x 1 da derrota imperdoável da Seleção Brasileira diante da Alemanha.
Por fim, porque o plano dos golpistas é colocar em prática o programa antes defendido por Aécio Neves, candidato derrotado nas eleições de 2014. Se Temer tem 1% na intenção de votos, ele pretende governar para 1% dos brasileiros mais ricos. Todos os direitos democráticos do povo estariam terrivelmente ameaçados.
Por isso, “Reaje, reaje meu povo”: “Não vai ter golpe de novo”, como diz o samba popular cantado por Beth Carvalho.
*Juarez Guimarães é professor de Ciência Política da UFMG.
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